A Oracle no Brasil percebeu que valores, diversidade, inclusão e educação têm um impacto claro na empresa, logo na base da pirâmide de sua força de trabalho. Isso é mais do que somente um marketing da correção social. A empresa, criada em 1977 em uma garagem no Vale do Silício, Califórnia, vislumbrou uma nova visão mais humana de seus colaboradores e foi aqui no Brasil que começou a desenvolver programas para pegar talentos in natura, logo ali, na saída da escola: o Oracle Next Education (ONE), curso gratuito de preparação de profissionais de tecnologia para o mercado, com expectativa de 15 mil vagas até o meio de 2022; e o Generation Oracle (GenO), novo programa de trainee com 40 vagas para todo o Brasil, com candidatos escolhidos “às cegas”, que prepara profissionais já estudando em algum curso de tecnólogo para atuar na Oracle. “Hard skill nós desenvolvemos aqui dentro ao longo de 12 meses, depois mais 24 meses, no caso do GenO. Agora soft skill, que são os valores da pessoa, se ela é educada, não é arrogante, tem senso de gratidão e oportunidade, isso tem de vir com o candidato e é nosso critério inicial”, disse à DINHEIRO o presidente da Oracle, Alexandre Maioral, 44 anos. O entusiasmo é claro e faz o executivo que está há nove meses no cargo e 11 anos na empresa pular da cama às 5h, fazer seus exercícios e ir para o trabalho pensando não só em códigos.

O mercado de desenvolvedores e tecnologia da informação é o que mais pede profissionais pelo mundo. No Brasil, empresas do setor terão mais de 700 mil vagas disponíveis até 2025 e dessas, 500 mil ficarão sem mão de obra, segundo a Associação de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Nessa tocada, a Oracle abre uma vaga em seu programa One a cada cinco contratos assinados, não importa o valor — se for de baixa renda, aí, sim, puxam o candidato para dentro mesmo. Buscar diversidade traz desempenho? “Conferimos: 85% das pessoas que entraram na Oracle depois de passarem pela seleção e curso do GenO tinham os valores e propósitos que queríamos. Desse número, 60% eram mulheres e negras. A escolha final foi feita por produtividade. Então, digo que sim, traz”, disse Maioral.

“Aqui temos um lema: vamos errar rápido, para também poder acertar rápido. É um pouco dilema de startupAlexandre Maioral, presidente da oracle no brasil

Com US$ 6 bilhões anuais em desenvolvimento e inovação distribuídos globalmente, a Oracle é atualmente a líder mundial em ERP Cloud, um tipo de nuvem baseada em SaaS (Software as a Service) em que o cliente compra um software em nuvem completo, com várias funcionalidades para seu negócio, como Inteligência Artificial e Blockchain. Daí ter não só grandes contratos milionários — hoje, 20% de sua receita vêm das pequenas e médias empresas. Nessa área ela tem 9 mil clientes no mundo. Já no restante do gigantesco mercado de nuvens públicas e privadas, avaliado em mais de US$ 150 bilhões de dólares, a Oracle é uma das dez, sendo as quatro líderes a AWS (Amazon), Azure (Microsoft), Google e Alibaba, segundo dados da Synergy Research Group em 2021.

No Brasil, a Oracle tem dois data centers de nuvens, um em Vinhedo (SP) e outro em São Paulo, somados a outros em 36 regiões no globo. É um mundo em expansão exponencial ao cubo, um negócio pra lá de bom, com estimativa de receita no Brasil de R$ 18 bilhões. “Nosso nascimento está ligado a um contrato com o Pentágono para um banco de dados, nos anos 70. Temos em nosso DNA dados e segurança”, disse Maioral. “Quando um cliente tem um workload que é missão crítica, acaba pensando na gente. Fizemos isso com a TIM recentemente, em que já colocamos seus centros de backoffice na nuvem.”

O ERP foi o grande investimento da Oracle para se diferenciar dos concorrentes, que chegaram antes às nuvens. Era uma empresa basicamente de produto, vendendo hardware e banco de dados. “Pivotamos isso nos últimos cinco anos.” Agora é uma empresa de serviço. A proporção de receita é 70/30, inverteram tudo, com a maior parte vindo de cloud e o restante de licenciamento, dos aplicativos que faziam lá atrás. “Nosso software de ERP tem atualização de três em três meses, o que agrada CEOs, que não precisam refazer suas estruturas toda hora. E aceleramos muito nossas outras clouds, nos aproximando de nossos concorrentes.”