No início do mês, o executivo espanhol Ramón Blanco, diretor da Repsol-YPF ? gigante hispano-argentina do setor de petróleo e energia ?, fez um concorrida apresentação em Buenos Aires. No auditório da empresa, na capital argentina, ele reuniu jornalistas e vários executivos da subsidiária local. O ponto alto do encontro foi o anúncio do ambicioso plano global de investimentos da multinacional. Até 2005 vão ser gastos US$ 24 bilhões e a maior parte, US$ 12,4 bilhões, será colocada nas diversas operações que a Repsol-YPF mantém na América Latina. A fatia do Brasil não é menos generosa: US$ 6 bilhões, a serem gastos na abertura de novos postos, prospecção de petróleo na bacia de Campos, desenvolvimento do sistema de gás no sul de São Paulo e ampliação da capacidade da refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul. De todas as tacadas, porém, uma vem sendo considerada prioritária: a negociação com as cinco famílias que controlam a Petróleo Ipiranga, com as quais a Repsol já mantém associações nas áreas de eletricidade e gás, na região Sul. Desta vez, o alvo é a rede de distribuição de combustíveis, avaliada em US$ 1 bilhão. No setor, comenta-se que a proximidade entre as duas empresas, parceiras em outros empreendimentos, pode facilitar a negociação. A direção da companhia brasileira ? como é comum em transações deste porte ? não comenta o caso. Blanco, por sua vez, cita os elementos que justificam o namoro. ?Seria a melhor opção para ampliar nossa participação no mercado brasileiro de revenda de combustíveis, que hoje é de apenas 2%?, diz. É a primeira vez que a Repsol-YPF admite o interesse na rede de postos brasileira.

Aumentar o raio de atuação é o principal desafio do grupo que desembarcou no País há pouco mais de dois anos, com planos concretos de crescimento e ?bala na agulha? para torná-los realidade a médio prazo. A primeira tacada foi a compra de uma fatia de 29,25% da Refinaria de Petróleo Manguinhos, detentora da marca WAL. Além disso, a bandeira YPF já tremula em outros 80 postos situados no eixo Rio?São Paulo?Minas. A companhia também investiu em outras frentes. Disputou e venceu licitações para exploração e prospecção de petróleo. Fez associações estratégicas com a Ipiranga e a conterrânea Gás Natural. Na ex-rival Petrobras os espanhóis pinçaram o executivo João Carlos de Luca, 49 anos ? considerado um técnico brilhante ?, para tocar os negócios no País. Ele foi um dos mentores do acordo de troca de ativos, orçado em US$ 1 bilhão, celebrado entre as duas gigantes. O acerto garantiu à Repsol-YPF o controle de 350 postos da rede BR Distribuidora, localizados nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Além disso, os espanhóis ficaram com um naco de 30% das ações da Refinaria Alberto Pasqualini (no Rio Grande do Sul) e 10% no campo de Albacora Leste, que possui reservas estimadas em 700 milhões de barris de óleo cru e 20 bilhões de metros cúbicos de gás. Lá, serão investidos US$ 1,6 bilhão até 2007. Agora, só falta a Ipiranga.