14/12/2018 - 11:00
A expectativa em torno da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), no dia 7 de dezembro, demonstrou como o produto continua no centro da geopolítica global. Integrantes do cartel e seus aliados concordaram em cortar a produção em 1,2 milhão de barris por dia, durante seis meses, colocando fim à trajetória de incremento dos últimos anos. Trata-se de uma tentativa de evitar a repetição do cenário de 2014, quando o preço do petróleo caiu de US$ 90 para US$ 30, devido a um expressivo descasamento entre a oferta e a procura. A movimentação ocorre em meio a uma desaceleração da economia global e à forte oposição, na França, à criação de um imposto adicional sobre fontes de energia não renováveis.
Os EUA, maior produtor do mundo e tradicional aliado dos árabes, são contra a decisão da Opep por temer impactos internos. “Para preservar sua popularidade, Trump quer que o preço da gasolina fique baixo, já que a economia americana pode desacelerar em 2019”, explica Ann-Louise Hittle, analista da consultoria americana Wood Mackenzie.
Fundada em 1960, a Opep é composta por quinze países, incluindo a Arábia Saudita, Irã e Venezuela. Dias antes da última reunião, o Qatar anunciou que deixará a organização. O motivo, segundo analistas, é demonstrar independência frente à hegemonia saudita na região. “O que é novo nos últimos anos é certos países de fora da Opep, como a Rússia, participarem das discussões e aceitarem reduzir sua produção”, diz Bill Farren-Price, diretor da consultoria de energia RS Energy Group.
A variação dos preços de petróleo tem impacto profundo em todo o mundo, desde o nível de riqueza de nações produtoras até surtos inflacionários nos consumidores. A diminuição da dependência do petróleo é preocupação em todo o mundo, mas os Estados Unidos e várias outras nações estão na contramão. “Os EUA têm abundância de recursos naturais e não vão mantê-los enterrados”, disse Wells Griffith, conselheiro para energia de Trump, na segunda 10. De fato, a Opep estima que, em 2019, países não membros devem produzir 62 milhões de barris por dia, acima da demanda esperada, segundo seu último relatório divulgado na quarta 12. O Brasil terá a segunda maior taxa de produção, atrás apenas dos EUA. O volume deve chegar a 3,6 milhões de barris por dia em 2019, um aumento de 400 mil unidades em relação a 2018. Resta saber até quando valerá a pena o mundo manter esse curso.