Maior flexibilidade, redução de custos e melhor adequação às necessidades dos clientes, até então não percebidas ou tratadas, são alguns dos benefícios que os consumidores deverão sentir quando o open banking se tornar realidade no Brasil. O modelo, já adotado na Europa, pressupõe que os bancos abram conectores, colocando interfaces de programação de aplicativos (APIs) à disposição de terceiros para desenvolverem aplicações e oferecerem produtos e serviços baseados na plataforma e nos dados bancários.

Com isso, surge um enorme ecossistema em torno do banco, com novas ofertas e as mais variadas aplicações aos clientes. O novo cenário competitivo permitirá uma escolha ampliada por parte de consumidores e empresas, levando a revisões de modelos de precificação, expansão da oferta de valor, com novos serviços e/ou de melhor qualidade, além da redução de custos transacionais.

O varejo pode ser um grande beneficiário do open banking, incorporando serviços alternativos ofertados por entrantes no segmento bancos. Por exemplo, em contas a pagar e receber há oportunidade de se agregar valor na racionalização de processos e na integração de novas plataformas de serviços. Em cobrança, a criação de plataforma interoperável e de baixo custo é uma porta de entrada para oferta de novos players, a partir da qual serviços poderão ser acoplados.
Além disso, novos marcos regulatórios do Banco Central estão permitindo a inclusão de novas empresas no segmento de antecipação de recebíveis, o que é muito interessante para o mercado, já que é um setor que, anteriormente, estava reservado a grandes bancos e adquirentes.

Mudança no setor

O Open banking desperta o saudável “desconforto” nos players existentes, devido ao potencial de inclusão de novos jogadores. Com ele, o negócio bancário deixa de ser apenas a gestão de crédito, pagamentos, contas, entre outros, e evoluí para um novo patamar, que adiciona gestão de informações e fluxo de dados, associados ao transacional e guarda de numerário. É algo que transcende os limites de serviços até então estabelecidos para os bancos.

Para chegarmos a esse nível, as plataformas de tecnologia precisam evoluir para serem interoperáveis, pois o fluxo da informação é um atributo essencial dos novos serviços. Como a premissa de open banking é viabilizar a interoperabilidade nos fluxos essenciais do relacionamento bancário, o movimento motiva a entrada de novos players com tecnologias que já nascem sem ancoragens em princípios passados de gestão de dados e desperta a necessidade nos players existentes de modernização, revisão e adequação de todos os sistemas legados. O consumidor, certamente, será um grande beneficiado deste novo patamar competitivo.

O movimento do open banking é saudável ao mercado, mas ainda é cedo para caracterizá-lo como algo devastador ou prevalecente. O cenário mais provável é de termos entrantes de sucesso, atendendo a nichos, e um saudável incômodo nos players tradicionais que deverão se adaptar à nova realidade.

O modelo tecnológico de sustentação dos grandes e tradicionais bancos pode estar chegando a um limite de crescimento e de adaptação a novas necessidades. Por um lado, temos um mercado consumidor com novas demandas em uma velocidade nunca antes observada — o que pode representar um elevado custo da mudança para players tradicionais. Por outro lado, temos a necessidade de ganho de escala, fator imperativo para novos players.

Apesar de nascerem com plataformas de tecnologia flexíveis e modernas, mais adequadas ao cenário de inovação constante, os entrantes poderão enfrentar dificuldade em alcançar ganho de escala, quase sempre exigindo grandes investimentos em distribuição, o que limitará a viabilidade de boa parte das iniciativas novas nesta área.

Gastão Mattos é líder da IDid – plataforma que possibilita compras com cartão não presente nas modalidades débito e crédito. Foi CEO da Braspag, diretor da Credicard, vice-presidente de Marketing da Visa e presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (câmara.e-net).