O navio humanitário “Open Arms” recusou neste domingo (18) por considerá-la inviável a oferta, feita por Madri, de levar a um porto espanhol a centena de migrantes que estão a bordo há mais de duas semanas, enquanto o governo de Pedro Sánchez condenou a Itália por fechar seus portos à embarcação.

Diante da “resposta inconcebível das autoridades italianas (…) de fechar todos os seus portos”, o governo espanhol anunciou neste domingo que habilitaria o porto de Algeciras, ao sul da península Ibérica, para receber o “Open Arms”.

Mas a ONG espanhola Proactiva Open Arms recusou a proposta, afirmando que é “absolutamente inviável” navegar até Algeciras de sua localização atual, perto da ilha italiana de Lampedusa, devido à “emergência humanitária” a bordo, indicou sua porta-voz, Laura Lanuza, à rádio COPE.

Diante do impasse, o governo espanhol fez esta noite uma contra-oferta: ofereceu “o porto espanhol mais próximo em sua rota até nossas águas territoriais”, que poderia ser nas ilhas Baleares, informaram à AFP fontes do governo, que informaram não ter recebido ainda nenhuma resposta.

O ministro italiano de Transportes, Danilo Tonelli, encarregado da guarda costeira do seu país, afirmou que seus membros estavam “dispostos a acompanhar a ONG até o porto espanhol com todo o apoio técnico necessário”.

De qualquer forma, seguir para a Espanha representaria vários dias de navegação adicional. O “Open Arms” já tinha rejeitado a oferta de Algeciras porque levaria cinco dias para chegar lá.

“Quer que naveguemos 950 milhas (náuticas) mais cinco dias até Algeciras, o porto mais longínquo do Mediterrâneo, com uma situação insustentável a bordo?”, perguntou no Twitter o fundador da ONG, Óscar Camps, lembrando que os migrantes estão no navio há 17 dias.

Fontes da ONG Proactiva informaram à AFP que a última palavra sobre se é seguro navegar até um porto é do capitão do barco.

Em troca, o “Open Arms” enviou uma “solicitação urgente” a Lampedusa para desembarcar os 107 migrantes a bordo, cujas “condições psico-físicas são críticas”.

Ao fazer a oferta, o governo espanhol alegou em um comunicado que “neste momento, a Espanha é o único país disposto a acolhê-lo no âmbito de uma solução europeia”.

Em outro comunicado, de seu ministério de Relações Exteriores, insistiu em pedir “a todas as autoridades governamentais italianas que autorizem [o] desembarque” dos migrantes e, se não permiti-lo, advertiu levar o caso à União Europeia (UE) ou a instituições garantidoras dos direitos humanos.

O texto assegurou ao governo italiano que se desembarcarem, “será feita a distribuição” dos migrantes entre os países dispostos a se fazerem cargo. Estes são França – que neste domingo disse que receberá 40 -, Alemanha, Luxemburgo, Portugal, Romênia e Espanha.

– “Desespero” –

Apesar de ter entrado na quinta-feira em águas territoriais italianas perto de Lampedusa, apesar de a Justiça italiana ter suspendido um decreto que o impedia de fazê-lo, o “Open Arms” não recebeu autorização para o desembarque do governo de Roma e do ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, de ultradireita.

Salvini permitiu com reticências a avaliação no sábado de 27 menores migrantes.

Neste domingo, Salvini criticou que o “Open Arms” rejeitasse a oferta espanhola. “Incrível e inaceitável, organizam cruzeiros turísticos e decidem onde desembarcar?”, tuitou.

A Proactiva Open Arms insistiu neste domingo no “desespero” dos migrantes a bordo, em um tuíte de Óscar Camps, que publicou um vídeo no qual se vê, segundo afirmou, um grupo de quatro migrantes que se jogaram na água para chegar a nado a Lampedusa e foram devolvidos ao barco por socorristas.

Este é o enésimo caso de uma embarcação humanitária à deriva no Mediterrâneo, à espera de que o governo italiano autorize o desembarque, embora desta vez tenha se misturado a crise política que se vive na Itália, onde se frustrou uma moção de censura de Salvini que pretendia dinamitar o governo.

– A Espanha defende recorde –

O governo de Pedro Sánchez, que ao chegar ao poder em junho de 2018 acolheu vários barcos humanitários, embora nos últimos meses não tivesse permitido atracações destes navios, defendeu seu recorde neste domingo.

“A Espanha é hoje, com grande vantagem o país da União Europeia que realiza mais resgates no Mediterrâneo”, informou, destacando que sua guarda costeira recuperou mais de 60.000 pessoas entre 2018 e 2019.

Enquanto isso, outro navio humanitário, o “Ocean Viking”, operado pela SOS Mediterranée e a Médicos sem Fronteiras (MSF), continua em busca de um porto seguro com mais de 350 migrantes a bordo.

“No momento, o estado de ânimo é bom”, informou o coordenador da missão da MSF, Jay Berger, a uma jornalista da AFP a bordo. Mas, “não é bom para ninguém” ficar muito tempo navegando sem desembarcar, afirmou.