A vacina contra a covid-19 não acabará com a devastação provocada pela pandemia no mundo – alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu o aumento da cooperação internacional, ao inaugurar uma reunião virtual sobre o coronavírus.

“As vacinas estarão disponíveis na próximas semanas e meses. Mas não nos enganemos. Uma vacina não pode desfazer o dano que vai durar anos, inclusive décadas”, afirmou o secretário-geral durante a sessão especial da Assembleia Geral, da qual participaram líderes de 141 países.

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“A pobreza extrema está crescendo, a ameaça de fome se aproxima. Enfrentamos a maior recessão mundial em oito décadas”, advertiu.

Ele citou os esforços da ONU para entregar material médico durante a pandemia em 172 países e destacou o trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir a mortalidade e desenvolver uma vacina, diagnósticos e tratamentos “disponíveis para todos”.

“Pedi, em repetidas ocasiões, que a vacina de covid-19 seja um bem público mundial disponível para todos, em todos os lugares”, disse Guterres.

E como isso será possível? Por meio do “Acelerador ACT”, uma iniciativa de colaboração mundial para acelerar a produção e o acesso equitativo às vacinas, e de um de seus três pilares, a plataforma COVAX, que busca democratizar o acesso e tem a participação de 180 países.

As grandes exceções são Estados Unidos, que lideram as pesquisas e onde o presidente Donald Trump deseja vacinar os americanos em primeiro lugar, e que anunciou a saída da OMS; e Rússia, que desenvolveu a própria vacina, apesar do ceticismo demonstrado por alguns especialistas.

Guterres recordou que ainda existe uma brecha financeira de US$ 28 bilhões para alcançar os objetivos, incluindo US$ 4,3 bilhões necessários com urgência para os próximos dois meses. Ele pediu o aumento das doações aos países.

O chefe da diplomacia mundial ressaltou que os esforços adotados para ajudar os países em desenvolvimento durante a pandemia “são insuficientes”. Ele voltou a pedir a aprovação de um pacote de ajuda global equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e o alívio da dívida dos países durante a crise.

“Muitos países de baixa e média renda precisam de apoio imediato para evitar uma crise de liquidez. Estão sendo obrigados a escolher entre fornecer serviços básicos à sua população, ou a pagar as dívidas”, afirmou.

Guterres disse esperar que as iniciativas de dívida do G20 sejam ampliadas para incluir todas as economias em desenvolvimento vulneráveis, incluindo as de países de renda média, que precisam de alívio.

Está previsto que 141 líderes mundiais, ou seus representantes, participem do encontro, com discursos pré-gravados de cinco minutos cada. Os presidentes de Rússia, Estados Unidos e China não participarão, mas estarão representados por ministros.