Este 2021 deve ser o ano do grande combate contra as mudanças climáticas, “cujas repercussões já custam caro para os povos do planeta”, alertou nesta segunda-feira (19) a ONU, antes de uma cúpula do clima proposta por Joe Biden.

As nações “devem agir agora para proteger as populações contra os efeitos desastrosos das mudanças climáticas”, declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na apresentação, junto com Petteri Taalas, diretor da Organização Meteorológica Mundial (OMM, agência das Nações Unidas), de seu relatório anual.

Ele lembrou que 2020 foi um dos três anos mais quentes já registrados e que as concentrações de gases de efeito estufa aumentaram, apesar da desaceleração econômica devido à pandemia de covid-19.

Para a ONU, 2021 é um ano “crucial” para tentar conter os efeitos “desastrosos” das mudanças climáticas.

A organização programou uma série de cúpulas importantes, começando esta semana, para dar aos líderes mundiais a chance de agir.

O relatório aponta que 2020 foi um ano de “condições climáticas extremas e perturbações climáticas causadas por mudanças climáticas geradas pelo homem”, segundo Guterres.

É publicado pouco antes da cúpula do clima organizada pelo presidente americano Joe Biden na quinta e sexta-feira: Quarenta líderes mundiais foram convidados a participar de discussões por videoconferência com o objetivo de galvanizar os esforços das principais economias para combater a crise climática.

Guterres destacou a Conferência do Clima da ONU, COP26, em novembro, para a adoção de “medidas ousadas” e materialização de “mudanças radicais”.

– “Fazer mais e mais rápido” –

Os atuais níveis de ambição em termos climáticos estão muito abaixo do necessário.

“Os países devem se comprometer a atingir zero emissões até 2050”, disse ele, acrescentando: “o prazo para cumprir as metas do Acordo de Paris (2015) acabou. Devemos fazer mais e mais rápido”.

Este acordo planeja limitar o aquecimento global a menos de 2ºC acima do nível pré-industrial, enquanto os países continuam seus esforços para limitá-lo a 1,5ºC.

Mas a OMM considera que há pelo menos uma chance em cinco de que a temperatura média global ultrapasse temporariamente a barreira de 1,5º C em 2024.

“Todos os indicadores-chave do clima (…) ressaltam a persistência e implacabilidade da mudança climática, o aumento no número e intensidade de eventos extremos, bem como perdas e danos em grande escala, afetando negativamente as pessoas, sociedades e economias”, resumiu Taalas.

– 38°C no Círculo Polar –

“Para estabilizar a temperatura média global em 1,5 ou 2°C acima do nível pré-industrial até o final do século, precisaríamos de uma grande redução nas emissões de gases de efeito estufa já, nesta década”, alertou o diretor da OMM.

Em 2020, as concentrações dos principais gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – continuaram a aumentar, apesar da redução temporária das emissões pela pandemia de covid-19, que desacelerou a economia.

Além disso, 2020 foi um dos três anos mais quentes já registrados até agora, com temperaturas atingindo 38 °C em Verkhoyansk, Rússia, em 20 de junho, algo nunca visto ao norte do Círculo Polar Ártico.

O aumento do nível do mar está se acelerando, assim como o armazenamento de calor e a acidificação dos oceanos, o que diminui sua capacidade de moderar as mudanças climáticas.

Além disso, o relatório aponta para o derretimento da camada de gelo no Ártico e o número sem precedentes de 30 tempestades ciclônicas no Atlântico, com mais de 400 mortes e danos de 41 bilhões de dólares.

Ondas de calor extremo, secas severas e incêndios florestais também causaram enormes perdas.

Por fim, no primeiro semestre de 2020 ocorreram 9,8 milhões de deslocamentos devido a riscos de desastres meteorológicos.