As vendas de automóveis no Brasil estão mudando com uma velocidade sem precedentes. Não apenas os tipos de carros são outros, mas também o perfil dos consumidores. E mais ainda: a forma como os carros estão sendo comprados e utilizados também revela que estamos no início de uma revolução nesse mercado. Segundo uma recente pesquisa feita pela empresa de consultoria Jato Dynamics, publicada pela revista Automotive Business, o ranking dos dez carros mais vendidos no Brasil mudou radicalmente de 2008 para cá.

Em 2008, somente carros de entrada, como Gol, Palio, Uno e Celta, ocupavam as primeiras quatro posições no ranking. Em 2018, os cinco primeiros são Onix, HB20, Ka, Polo e Etios, todos carros mais caros. Nas demais posições, carros como Classic, Fiesta, Siena e Corsa, também mais acessíveis, deram lugar para modelos como Prisma, Argo e Compass (um SUV que custa mais de R$ 100 mil). Dos dez carros mais vendidos, só o Gol permanece no ranking, mas agora na sexta posição. Os top 10 representavam 57% de vendas e 43% de faturamento, mas agora representam apenas 48% de vendas e bons 40% de faturamento.

Os carros ficaram mais caros. Segundo a indústria, isso aconteceu porque ficaram também mais equipados. Isso é um fato. Nos últimos meses, entretanto, tem crescido também as vendas diretas. Esse segmento – formado principalmente por frotistas, administrações públicas e taxistas – representava historicamente de 25% a 30% das vendas. Mas este ano já está em 39% e foi de 40% em maio e 41% em junho. Segundo o presidente da Anfavea, Antonio Megale, é um dado preocupante, pois o faturamento da indústria cai com esse tipo de venda e afeta a rede de concessionárias, mas ainda não atingiu seu pico, que pode chegar a 60%. Em maio, os 10 mil modelos Jeep vendidos no Brasil, cerca de 6,5 mil (ou 65%) foram de vendas diretas.

Mais Onix do que Strada

Para se ter uma ideia do fenômeno, no primeiro semestre foram vendidos mais Chevrolet Onix (um carro de passeio) de forma direta do que Fiat Strada (um carro de trabalho). Foram 33,2 mil Onix contra 31,2 mil Strada. E a soma dos dois carros de passeio mais vendidos para frotistas (Onix e Ford Ka) é maior do que a soma das duas picapes mais vendidas nessa modalidade (Strada e Toro). São quase 54 mil Onix/Ka contra 52 mil Strada/Toro. Outro exemplo: a indústria entregou a mesma quantidade de Jeep Compass pelas vendas diretas (14,5 mil) que a soma das picapes Chevrolet S10 e Ford Ranger (15 mil).

Quem está comprando SUVs dessa forma são os frotistas, pois existe uma demanda para o aluguel desse tipo de carro. Muitos consumidores desistiram dos custos de propriedade de um veículo e estão preferindo alugar. Os aplicativos de mobilidade urbana – como Uber, 99 e Cabify – também estão mexendo no mercado, pois muitos jovens, que seriam potenciais consumidores após os 18 anos, também estão preferindo investir seus primeiros salários em outras coisas. Para além disso, a economia não está conseguindo reduzir a taxa de milhões de desempregados, o que também mudou o perfil de quem compra carros e os tipos de carros comprados. Vivemos novos tempos. Só vai se dar bem quem souber lidar com a nova realidade.