08/04/2022 - 1:55
Funciona assim. O senhor Fulano 1 cria uma ONG e não faz mais nada. Com o passar do tempo uma verba federal surge dentro de um projeto. Normalmente de educação ou saúde — áreas que tocam o coração das pessoas. Aí aparece o senhor Beltrano 2. O passo seguinte é que um amigo do amigo dentro do governo libera o dinheiro, sempre a partir da emenda de algum parlamentar. Mas a grana só pode chegar a uma ONG com xis anos de existência. Sem problemas: basta pegar a entidade criada pelo Fulano 1 e passá-la para o senhor Beltrano 2. Quase como transferir o domínio de um site. Em novas mãos, pega-se o dinheiro para, por exemplo, realizar “cursos de esportes”. Depois, para driblar a ausência de qualquer histórico das ONGs nos temas contratados, elas vão para as mãos de pessoas com certa grife no segmento. No caso em questão, Emerson Sheik (à esquerda, ex-jogador ídolo do Corinthians) e Daniel Alves (à direita, um quase ex-jogador, que já foi ídolo e odiado no São Paulo e voltou a jogar pelo Barcelona). Os repasses previstos (e ainda não liberados) somavam R$ 6,2 milhões. Entre os nomes ligados a Sheik nessa modelagem está o de Leonardo Castro, que atuava dentro da pasta de Esportes do governo Bolsonaro. Castro deixou o cargo em dezembro, no mesmo dia em que a ONG de Sheik assinou seu contrato. Na terça-feira (5), após a revelação do caso pela Folha de S.Paulo, Sheik decidiu tirar seu nome da roubada. O Ministério da Cidadania, comandado por Ronaldo Vieira Bento, diz que não há ilegalidade no assunto. Pode nem se tratar de ilegalidade. Trata-se de imoralidade mesmo.
BRASIL-IL-IL parte 2
Bangue-bangue à moda da casa
É preciso reconhecer que o Brasil deu errado. Só assim dará para salvar o roteiro que começou com “Era uma vez…” e vai terminar como Round 6: um sobrevivente, mas que preferia estar morto. Na segunda-feira (4), num evento da CUT, Lula disse que “se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 na casa, não para xingar, é para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele, surte muito mais efeito do que fazer manifestação em Brasília”. A reação, em especial de parlamentares bolsonaristas, veio no mesmo nível. Em uma delas, o anônimo Cabo Junio Amaral (PL-MG) posta vídeo em redes sociais explicando (mais ou menos) como se faz para chegar à casa dele em Contagem (MG). “Eu vou esperar vocês lá. Tanto sua turma quanto você (Lula). Vai (sic) lá conversar com minha esposa, minha filha. Vocês serão muito bem-vindos.” A fala acontece enquanto ele carrega uma pistola (à direita). Faroeste de quinta categoria perde.
INVASÃO DA UCRÂNIA
Zelenski compara cenas
de Bucha à Guernica e pede (e consegue) mais sanções Numa teleconferência entre o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e o congresso espanhol, na terça-feira (5), o líder ucraniano tocou na ferida. “Estamos em abril de 2022, mas parece que estamos em abril de 1937.” Comparou os ataques à cidade de Bucha, próxima à Kiev, ao que aconteceu à cidade espanhola de Guernica, que teve a população massacrada por ataques do governo franquista durante a guerra civil no país — que originou uma das obras mais famosas de Pablo Picasso. No sábado (2), a agência de notícias AFP foi a primeira a divulgar imagens de valas coletivas, civis mortos com sinais de execução e outras atrocidades que elevam o cenário a crimes de guerra. O papa Francisco condenou a “horrenda crueldade”. Zelenski disse que os europeus devem parar de “ter medo da Rússia” e pediu “armas e sanções.” O discurso mais forte veio, no entanto, de sua fala na mesma terça-feira ao Conselho de Segurança da ONU. “Onde está a segurança que o Conselho precisa garantir? Não está lá (na Ucrânia).” Sua declaração foi retórica, já que a Rússia (mais China, Estados Unidos, França e Reino Unido) tem poder de veto sobre qualquer decisão, mas escancara tudo o que a ONU não pode fazer. No dia seguinte, os EUA anunciaram mais sanções contra grandes bancos russos e as filhas de Vladimir Putin.
BRASIL IL-IL PARTE 3
Toyota fecha fábrica histórica
Não anda fácil o segmento de montadoras de veículos no Brasil. O País vive uma crise que parece não ter fim. Na terça-feira (5), a japonesa Toyota anunciou o fechamento de sua fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A unidade, que tem 60 anos e produz peças para outras plantas da empresa no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos, foi a primeira operação da companhia fora do Japão. A produção será transferida para Indaiatuba, Porto Feliz e Sorocaba, no interior de São Paulo. De acordo com a companhia, a intenção é buscar mais sinergia para aumentar a competitividade “frente aos desafios do mercado brasileiro e da sustentabilidade dos negócios no País”. A mudança deverá ser concluída em novembro de 2023. Não há previsão de demissões — caso os 550 funcionários decidam se mudar para uma das três cidades do interior paulista.
+5,5% oscilação do S&P 500 entre o início da invasão da Ucrânia (24 de fevereiro) e terça-feira (5), dia da fala de Volodimir Zelenski ao Conselho de Segurança da ONU
MEMÓRIA CURTA
Segundo pesquisa Datafolha, porcentual de brasileiros que consideram ruim ou péssima a gestão (sic) de Jair Bolsonaro na crise da Covid cai de 54% para 46% entre setembro e fim de março. O Brasil tem 660 mil mortos pela doença.
