Um pedido de impeachment foi protocolado na Câmara de Vereadores do Guarujá contra o prefeito da cidade, Válter Suman (PSDB). O documento foi enviado para a casa legislativa após o gestor ser afastado provisoriamente do cargo por decisão do desembargador Nino Toldo, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Suman foi um dos alvos da 2ª fase da Operação Nacar, deflagrada na terça-feira, 29, pela Polícia Federal, que investiga supostas fraudes em contratações pela prefeitura nas áreas da Saúde e da Educação. No pedido, feito pelo engenheiro e presidente da Associação Guarujá Viva, José Manoel Ferreira, ele afirma que o chefe do poder executivo teria cometido crime de responsabilidade e quebra de decoro. O engenheiro solicita um “afastamento definitivo” do gestor. Veja o documento na íntegra:

“Ele [Suman] não tem autoridade moral, virou motivo de deboche. A cidade está à deriva”, afirmou o autor do pedido de impeachment em entrevista ao Estadão. Oposição do prefeito, há dois meses o engenheiro entregou a presidência do diretório municipal do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Agora como Presidente da Associação Guarujá Viva – organização não governamental focada em problemas locais -, ele afirma que está fortalecendo um movimento apartidário enquanto “eleitor e membro da sociedade civil”.

Para José Manoel, o documento protocolado nesta semana é de teor político-jurídico. “O pedido é objetivo. É pelo comportamento ético-moral. Ele perdeu a dignidade pública, está desgastado para a função”, ressaltou. O engenheiro foi responsável pelo documento enviado para a Câmara em setembro de 2021. Na ocasião, 11 vereadores votaram contra o pedido de impeachment. “A impunidade foi vencedora”, relembrou a decisão. Na época, o prefeito foi preso em flagrante durante a 1ª fase da Operação Nacar, a PF encontrou grandes quantias de dinheiro no imóvel do gestor. Desta vez, a expectativa do engenheiro é que os parlamentares “revejam o posicionamento”. Pois, segundo ele, os vereadores estão tendo “a segunda chance”.

Hoje, a casa legislativa municipal possui cinco parlamentares na bancada da oposição. São os vereadores: Professor Anderson Figueira (Podemos), Waguinho (DEM), Toninho Salgado (PSD), Vargas (PTB) e Raphael Vitiello (PSD). Este último foi um dos investigados na 2ª fase da Operação Nácar. Ele teve o gabinete vasculhado pela PF. A reportagem procurou o parlamentar, mas a assessoria não se manifestou sobre o caso. Sobre esta situação, José Manoel apontou que a acusação pode ter sido “uma falha”.

Com os desdobramentos do pedido de impeachment, o engenheiro defendeu que no atual cenário os parlamentares podem “tirar o prefeito de vez”. Para ele, o que interessa é a participação ativa da população nos interesses públicos. “A cidade está em desencanto, mas segue reativa. O que não pode é dormir em berço esplêndido”, resumiu.

No Diário Oficial do Guarujá publicado nesta quinta-feira, 31, Adriana Machado, vice da chapa, assumiu o cargo de prefeita em exercício do município. O médico Válter Suman estava no segundo mandato. Em 2020, ele foi reeleito 112.672 votos. Antes de concorrer ao pleito de prefeito, ele foi vereador do município em 2006.

A operação

Além de Guarujá, na 2ª fase da operação, a PF cumpriu 55 mandados de busca e apreensão na cidade mineira Brazópolis, na capital paulista e nos municípios de São Paulo: Santos, São Vicente, São Bernardo do Campo, Carapicuíba, Campos do Jordão. A Justiça Federal bloqueou mais de R$ 110 milhões de bens e valores dos investigados, segundo a corporação. Os suspeitos podem responder pelos crimes de peculato, corrupção ativa e passiva, fraude em licitação, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE GUARUJÁ

“A Prefeitura de Guarujá reforça que vem seguindo todas as ordens judiciais protocoladas na terça-feira (29), em decorrência da segunda fase da Operação Nácar, que correm em completo segredo de justiça. Ante ao afastamento liminar, a vice-prefeita, Adriana Machado, assume provisoriamente a função de prefeita em exercício.”

COM A PALAVRA, A DEFESA DO PREFEITO VÁLTER SUMAN

A reportagem do Estadão entrou em contato com a defesa do gestor, mas o advogado não deu qualquer resposta. O espaço está aberto para manifestação.