Na quarta-feira (27), Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC), demonstrou sua disposição de tirar o atraso. Ao longo dos últimos meses, o BC vinha convivendo com uma inflação consistentemente acima da meta de 5,25% para este ano, incluindo a margem de tolerância. Essa aparente leniência com a inflação desarrumou o mercado. Elevou os juros futuros longos para mais de 11,4% ao ano, fez o dólar superar R$ 5,60 e levou o Ibovespa às menores cotações em mais de um ano. Agora, a decisão foi elevar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 7,75%, e sinalizar um aumento da mesma proporção na reunião marcada para dezembro. A se confirmar, essa política do BC pode fazer a Selic iniciar 2022 a 9,25%, maior patamar desde julho de 2017, ainda na gestão de Michel Temer.

Para os especialistas, já estava na hora. “O BC está na situação de um corredor de longa distância que estava perdendo para a inflação e agora emparelhou com ela”, disse o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas. Segundo ele, na prática o BC satisfez as expectativas mais duras do mercado, pois elevou os juros em três pontos percentuais. Será uma alta de 6,25% para 9,25%, só que dividida entre a reunião da quarta-feira e a de dezembro. “Com isso, o BC mostrou que não queria correr o risco de desancorar as expectativas”, disse.

A economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, avalia que deve vir mais juro pela frente. Segundo ela, o comunicado divulgado pelo Copom após a reunião teve um tom ainda duro. “Isso deixou claro que autoridade monetária fará o possível para conter a inflação, ou seja, poderemos ter novos aumentos de juros pela frente”, disse.

Douglas Luccena

“O BC estava na situação de um corredor de longa distância que estava atrás da inflação e agora emparelhou com ela” Nicola Tingas economista-chefe da Acrefi.

Nesse cenário, o que fazer com seu dinheiro? Segundo o economista e CEO da Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti, após vários meses de volatilidade os preços dos ativos financeiros refletem as expectativas de maneira adequada. As ações estão baratas, o dólar e os juros futuros subiram. Ou seja, não há apostas óbvias e o cenário à frente não é ameno. “Há muita incerteza em relação ao cenário fiscal, algo que pode piorar com a antecipação da corrida eleitoral”, disse Marcatti.

Para o economista-chefe da gestora Integral Group, Daniel Miraglia, a alta das taxas voltou a tornar as aplicações em renda fixa atrativas. Nem todas, porém. Para ele, o mais recomendável é colocar parte dos recursos em investimentos que sejam indexados ao IPCA e que também paguem juros, pois o prêmio acima da inflação permanece elevado. Ele também recomenda aplicações pós-fixadas, que ainda conseguem capturar elevações posteriores dos juros. “Uma boa sugestão são fundos de investimentos em direitos creditórios, os FIDC, que pagam juros de mercado mais um prêmio, desde que o gestor seja comprovadamente competente na gestão do portfólio”, disse ele.

E o dólar? Pelo livro-texto, juros mais altos atraem investimentos estrangeiros, o que eleva a oferta da moeda americana e resulta na apreciação do real. No entanto, segundo Fernanda Consorte, “a sinalização de um quadro inflacionário com baixo crescimento econômico, em um ambiente em que o populismo está falando mais alto, é muito ruim para o retrato da instituição Brasil e escancara ainda mais a fragilidade da conjuntura atual”. Ou seja, pode até haver um alívio de curto prazo no câmbio, mas a tendência continua sendo de pressão e de volatilidade nos próximos meses. Continua valendo a pena ter parte de seu patrimônio em moeda forte, portanto.

O QUE FAZERCOM SEU DINHEIRO
As recomendações para renda fixa e ações

Renda Fixa
O que preferir: aplicações vinculadas à inflação e que paguem juros, desde que o investidor espere o vencimento.
O que evitar: aplicações prefixadas, pois não há uma perspectiva clara de até quanto os juros podem continuar subindo.

Ações
O que preferir: empresas que paguem bons dividendos e empresas exportadoras, para lucrar com o avanço da economia global.
O que evitar: ações de empresas dependentes da economia brasileira, que deverão sofrer com a retração da atividade devido à alta dos juros.