A taxa básica de juros da economia, a Selic, baixou de 14,25% para 6,5% ao ano nos últimos 18 meses. O rendimento dos investimentos tradicionais de renda fixa encolheu na mesma proporção. Portanto, diversificar é a palavra de ordem para manter os ganhos. “Passamos a incentivar nos clientes um olhar de 360 graus em relação aos investimentos”,diz Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco. Ao abrir o campo de visão, a renda variável figura como uma opção atrativa. Mas há quem não tenha disposição para a tomar tanto risco. O que fazer?

As ações que pagam dividendos mais generosos figuram como uma boa alternativa. São papéis considerados defensivos, que oscilam menos diante das intempéries da política e da economia. Por isso, são recomendados aos clientes com perfil mais conservador. Eles oferecem um caminho mais suave para quem quer dar os primeiros passos na renda variável. A estratégia, no entanto, exige paciência. “Os dividendos são promissores no longo prazo”, diz Marcos Peixoto, analista de renda variável da XP Investimentos. Essa foi a tática adotada por um dos mais bem-sucedidos investidores individuais da Bolsa: Luiz Barsi. Há 50 anos, ele administra a sua carteira de dividendos com foco na aposentadoria.

Até agora, Barsi conseguiu acumular mais de R$ 1 bilhão. “Compro ações baratas que têm potencial de pagar bons proventos”, disse à DINHEIRO em uma recente entrevista. O preço é uma variável importante na escolha do papel. Mas há outros requisitos que precisam ser avaliados com cuidado. A dica dos analistas é buscar empresas que estão gerando um bom caixa e, portanto, tendem a recompensar o investidor com lucros elevados nos próximos trimestres. Geralmente são companhias cujos papéis têm alto potencial de valorização, e que estão na lista de recomendação de compra das corretoras.

Opção para diversificar: certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs), lastreados em créditos do setor, estão cada vez mais acessíveis, com investimento a partir de R$ 1 mil (Crédito:iStock)

A Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Ceteep) é um exemplo. Com os fundamentos em ordem, a expectativa é que a sua receita aumente neste ano. A ação preferencial, cotada na semana passada a R$ 65,24, deve pagar 12% de dividend yield como reflexo de um evento extraordinário (observe o quadro abaixo). “A companhia começou a receber em julho do ano passado uma indenização de cerca de R$ 8 bilhões do governo como compensação por perdas com concessões em 2012, por conta da Medida Provisória 579”, diz Peixoto. O pagamento será parcelado em oito anos. O reforço no caixa alimenta a expectativa de que o seu lucro mantenha em 2018 valor próximo do montante alcançado no ano passado, de R$ 1,3 bilhão.

Outra estrela das carteiras de dividendos é a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que ganhou mais um argumento ao seu favor no fim do ano passado, quando a política de pagamento de proventos elevou a remuneração de 25% para 50% do lucro. A expectativa é a de que o percentual ganhe um novo aumento até dezembro. “O governo de Minas Gerais é sócio majoritário com 51% do capital, e com uma situação financeira delicada, acreditamos que esse percentual pode chegar a 100%”, diz Peixoto, da XP Investimentos. A expectativa é que o governo, que está endividado, use a sua influência sobre a companhia para aumentar o pagamento de proventos com o intuito de contar com uma renda extra para equilibar as contas.

Não são, no entanto, somente os papéis defensivos que oferecem bons dividendos. Entre as companhias consideradas tradicionais por terem maior peso no Ibovespa, a Vale passou a figurar neste ano como uma boa opção. A mineradora tornou a política de dividendos mais atrativa no fim de março.“Com a mudança, calculamos provento de 4,9% sobre o preço da ação este ano”, diz o Lucas Tambellini, estrategista de ações Brasil da Itaú Corretora. Há também alternativas além da renda variável para diversificar a carteira. Os títulos de renda fixa lastreados em créditos são uma boa opção. Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis Agrícolas (CRAs) estão cada vez mais acessíveis à pessoa física, com investimento a partir de R$ 1 mil.

Lucas Tambellini, estrategista de ações Brasil da Itaú Corretora: “Ação da Vale é uma boa opção para quem busca rentabilidade com dividendos” (Crédito:Ana Paula Paiva/Valor )

São investimentos de longo prazo, lastreados em créditos imobiliários ou agrícolas, e emitidos exclusivamente por companhias securitizadoras. “O maior risco nessa categoria é a garantia do título perder o valor”, diz Fábio Macedo, diretor comercial da Easynvest. Ele aconselha: “Para se proteger, é preciso verificar o grau de risco da companhia medido pelo rating”. Em relação aos ganhos, cada emissão tem a sua rentabilidade. É possível comprar títulos que pagam a inflação medida pelo IPCA mais um percentual de 7% a 9% ao ano. Como comparação, um título do Tesouro Direto atrelado à inflação remunera, em média, IPCA mais 4% ao ano.

Outra alternativa são as debêntures, títulos de dívidas de empresas privadas, cujas ofertas estão aumentando. Analistas destacam que essa alta reflete a diminuição gradativa de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As companhias brasileiras emitiram R$ 60,7 bilhões em valores mobiliários no primeiro trimestre de 2018, e 73% desse montante são debêntures. “Uma boa opção são as debêntures incentivadas, de companhias ligadas ao setor de infraestrutura, que são isentas de imposto de renda”, diz Tiago Reis, sócio da Suno Research. Para sair do ganho baixo, a solução, agora, é arriscar.