Você pode contar com elas. Seu risco é baixo, seu retorno, garantido. O crescimento é sólido, sem explosões como os das companhias emergentes, sem emoções fortes, mas com resultados sempre positivos. No jargão do mercado financeiro, essas ações são chamadas de ?blue chips? (denominação oriunda das fichas azuis, as de maior valor, no jogo de pôquer). Empresas como Petrobras, Telemar e Vale do Rio Doce fazem os olhos dos investidores brilhar de satisfação. São papéis de peso, que estão entre os mais negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Mas o que acontece quando as blue chips desbotam, perdem o brilho e seu retorno deixa de ser garantido? No mercado brasileiro, tradicionalmente menos estável que o americano, não é raro que uma empresa seja ?rebaixada? da condição de blue chip. O caso triste do momento é o da Globocabo, estrela da década de 90 que agora jaz na vala do esquecimento.

A Globocabo foi tida como o melhor investimento da Bolsa por ser uma das poucas representantes nacionais da Nova Economia. A empresa, operadora da NET, canal de televisão por assinatura, poderia aproveitar seu conjunto de cabos de fibra óptica para transmissão de dados e Internet de alta velocidade. Chegou a ganhar destaque na imprensa internacional e até a Microsoft, blue chip de sangue azul do mercado americano, vislumbrou o potencial do negócio e comprou um pedaço da companhia, uma das transações mais comemoradas em 1999. O resultado foi que as ações da empresa subiram exatos 1.047% em um ano e fizeram o Ibovespa, que cresceu 151,9% no mesmo período, comer poeira. Dois anos depois… ?A ação tinha tudo para dar certo. Chegou com todo o charme da nova era, da Internet. O problema é que os resultados não foram os que o mercado esperava?, diz Álvaro de Souza Barros, da corretora Souza Barros. ?A Globocabo perdeu o encanto.? Como resultado, desde o início do ano ela caiu 41,8% contra 1,4% do Ibovespa, o índice dos papéis mais negociados do mercado.

O mesmo efeito foi identificado em outra queridinha do mercado, a fabricante de cigarros Souza Cruz. Os papéis da empresa ainda são dos mais procurados, graças aos generosos dividendos pagos tradicionalmente. Em 1999 ela teve valorização de 101,5%, mas no ano seguinte caiu 17,4%. Por conta do ataque que a indústria do tabaco tem sofrido, sua liquidez não é mais das melhores. Ela reduziu-se ainda mais depois que a companhia resolveu recomprar parte dos papéis em poder do mercado. Por fim, a companhia não possui mais a participação que detinha na Aracruz, fabricante de papel e celulose. ?Os investidores compravam Souza Cruz por causa do pacote que incluía a outra empresa. Sem ela, as ações perderam atratividade?, diz Alexandre Viana, da Sul América Investimentos.

Outro exemplo é a Telebras, que chegou a concentrar 70% de todo o volume financeiro da Bovespa. Quando a empresa foi privatizada, em 1997, o mercado supunha que as grandes operadoras se tornariam as sucessoras naturais no trono. Mas seus resultados não comprovaram a tese. A espanhola Telefonica logo fechou o capital de sua controlada, a Telesp. A Telemar, que era o patinho feio das bolsas, aproveitou o vácuo e tornou-se a ação mais negociada na Bovespa. Mas seu desempenho também tem sido errático. Desde o início do ano ela caiu 11,5%, enquanto o azarão Telergipe subiu 64,7%. E, entre as empresas desmembradas, surgem periodicamente surpresas como a Tele Nordeste Celular PN, que em 1999 valorizou-se 360,8%.

Nos Estados Unidos, onde se pode acompanhar os resultados de empresas como a IBM ao longo de décadas, as chamadas blue chips oferecem uma segurança que tem poucas comparações no mundo dos investimentos. Mas mesmo na Bolsa de Nova York gigantes como McDonald?s, Wal-Mart e Disney andam frustrando os investidores. Em comparação com isso, no Brasil até classificar alguma empresa como blue chip é difícil. ?Basta ver a lista das cinco estrelas dos anos 80. Apenas Petrobras continua no topo?, contabiliza Luiz Antônio Neves, da Planner Corretora. Na década dos yuppies, os papéis mais negociados, por ordem de grandeza, eram Petrobras, Paranapanema, Aços Villares, Banco do Brasil e Banespa. A Paranapanema sofreu com a crise do estanho nos anos 80 e a Aços Villares foi comprada pela Acesita (mais tarde vendida para a francesa Usinor). O Banco do Brasil foi vítima da moratória decretada nos anos 80 pelo governo Sarney e o Banespa virtualmente sumiu do pregão desde que seu controlador, o Santander, resolveu fazer uma oferta pública de recompra de ações.