Por Jake Spring

(Reuters) – Ondas de calor extremo que antes só ocorriam a cada 50 anos agora devem ocorrer uma vez por década por causa do aquecimento global, enquanto chuvas fortes e secas também se tornam mais frequentes, alertou um relatório de uma comissão científica da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira.

O relatório revelou que o planeta já está sentindo os efeitos da mudança climática, conforme o aquecimento médio passa de 1 grau Celsius. Ondas de calor, secas e chuvas torrenciais só devem se tornar mais frequentes e extremas à medida que a Terra fica mais quente.

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É a primeira vez que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) quantifica a probabilidade destes eventos extremos em uma ampla variedade de situações.

O relatório apontou que chuvas intensas que ocorriam uma vez por década agora são 1,3 vez mais prováveis e 6,7% mais úmidas quando comparadas com os 50 anos transcorridos até 1900, quando o aquecimento significativo provocado pelos humanos começou a ocorrer.

Secas que ocorriam uma vez por década poderiam acontecer a cada cinco ou seis anos.

Cientistas enfatizaram que estes efeitos da mudança climática já estão aqui, mencionando eventos como a onda de calor do noroeste do Pacífico que matou centenas nos Estados Unidos em junho e a pior seca do Brasil em 91 anos.

“A onda de calor no Canadá, os incêndios na Califórnia, as secas na Alemanha, as inundações na China, as secas no centro do Brasil tornam muito, muito claro que os extremos climáticos estão cobrando um preço muito alto”, disse Paulo Artaxo, físico do clima da Universidade de São Paulo (USP) e um dos principais autores do relatório.

O futuro parece ainda mais desolador, já que mais aquecimento significa eventos extremos mais frequentes.

Ondas de calor mostram um aumento maior na frequência com o aquecimento do que todos os outros eventos extremos. Ocorrendo duas vezes por século, as ondas de calor poderiam se repetir aproximadamente a cada seis anos com um aquecimento de 1,5º Celsius, um nível que o relatório diz que pode ser ultrapassado dentro de duas décadas.

Caso o mundo se torne 4º Celsius mais quente, como pode acontecer em uma situação de grandes emissões, estas ondas de calor aconteceriam a cada um ou dois anos.

Carolina Vera, outra autora do relatório e física do clima da Universidade de Buenos Aires e da Conicet, a principal agência de pesquisa científica da Argentina, disse também existir uma probabilidade crescente de diversos eventos climáticos extremos poderem ocorrer ao mesmo tempo.

Por exemplo, calor extremo, seca e ventos intensos –condições que podem atiçar incêndios florestais– são mais prováveis de acontecer ao mesmo tempo.

(Reportagem adicional de Nina Chestney em Londres e Andrea Januta em Guerneville, Califórnia)

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