Monitorar a frequência cardíaca do consumidor está entre as principais atribuições da Omron. Com operações em 120 países, a empresa japonesa é líder em vendas de equipamentos para cuidados com a saúde no Brasil e, diante da volatilidade da economia nacional em razão da pandemia, tornou-se uma ‘paciente’ que busca controlar outro tipo de pressão, que aumenta a cada dia não só pelos altos custos em razão da variação cambial, mas pela escassez de matérias-primas e pela queda de 20% (no acumulado de 2020) na comercialização de inaladores. A boa notícia é que a evolução do quadro mostra-se satisfatória com o aumento de 26% nas vendas de medidores de pressão arterial no ano – e de 30% nos últimos três meses. “Foi o segmento que mais apresentou crescimento”, disse à DINHEIRO Wanderley Cunha, CEO e presidente da Omron Healthcare Brasil desde 2018. Os dois aparelhos correspondem a 80% dos negócios da companhia no País e são os únicos produzidos na fábrica de Jundiaí (SP), inaugurada em novembro, após investimento de R$ 60 milhões.

Globalmente, as vendas do grupo Omron atingiram US$ 7 bilhões no ano fiscal de 2019, encerrado em março. Já a divisão de saúde registrou US$ 1,1 bilhão de receita no período – o restante vem das divisões de automação industrial e componentes eletrônicos e mecânicos. Parte desse faturamento (o percentual não foi divulgado) será proveniente do Brasil, onde a empresa projeta crescimento de 18% no ano fiscal 2020, após ampliar a produção. “A capacidade saltou de 1,2 milhão para algo entre 4,5 milhões e 5 milhões de unidades por ano”, afirmou o executivo, primeiro funcionário contratado pela empresa, em 2009.

Apesar de os números se mostrarem positivos, Cunha revela preocupação com a desvalorização do real frente ao dólar em um ano, o que fez aumentar o custo dos produtos. A maioria do portfólio é importada da China e do Vietnã – há também fábrica no Japão. “Absorvemos metade desse custo. O dólar recuou nos últimos dias, mas no acumulado…” No início do ano fiscal da empresa, em abril, a moeda estava a R$ 4,20. Agora, está por volta de R$ 5. Quase 20% de crescimento. “Repassamos, no máximo, 10% no preço.”

RECÉM-INAGURADA Sob o comando do CEO e presidente Wanderley Cunha, a Omron ampliou a produção de medidores de pressão e de inaladores na fábrica em Jundiaí. (Crédito:Claudio Gatti)

Uma das saídas adotadas pela companhia para mitigar o impacto da moeda americana nos negócios foi a exportação, inicialmente para o México e para a América Central. A partir de agosto de 2021, a empresa espera entrar na Europa. Até 2025, a expectativa do presidente é que 60% da produção seja voltada ao mercado nacional e os 40% restantes ao internacional. Os países da América do Sul seguem no foco, mas a Omron depende de licenças de saúde.

Com o planejamento a médio e longo prazo definido, a empresa tem se desdobrado para cumprir os compromissos, ameaçados pela escassez de algumas matérias-primas e insumos utilizados na fabricação dos equipamentos. “Produzimos as placas dos aparelhos no Brasil. Mas por quase três semanas ficamos sem receber os componentes eletrônicos (provenientes da Ásia). Isso prejudicou a produção dos monitores de pressão, agora já restabelecida”, disse Cunha. “Mas, agora, se fala em falta de celulose e de plástico no mercado. São itens essenciais para os nossos produtos.”

REAÇÃO Sem interromper as operações na pandemia ou realizar demissões entre os cerca de 500 colaboradores, a Omron vive a expectativa pela recuperação do mercado de inaladores e que continue a boa performance do segmento dos monitores de pressão. Dados da consultoria Iqvia mostram que o faturamento deste setor aumentou 41% de janeiro a outubro deste ano, para R$ 279,2 milhões, em relação ao mesmo período de 2019. Nas farmácias, segundo a auditoria, o market share do produto da Omron chega a 47%. Já os inaladores têm 45%. “As farmácias respondem por cerca de 70% das vendas totais de aparelhos.” São negociados 2,2 milhões de monitores de pressão por ano, além de 2,5 milhões de unidades de inaladores. De janeiro a outubro, o aumento na demanda da categoria total de produtos no País chegou a 37%.

A redução nas vendas de inaladores está relacionada à mudança de comportamento da população, motivada, principalmente, pelo isolamento social. Para Cunha, as pessoas passaram a fazer o monitoramento da saúde em casa, além de muitas terem adotado a telemedicina. E, com a menor circulação, as doenças respiratórias ficaram mais controladas. “Como no Brasil os inaladores têm muito uso para gripes e resfriados comuns, esses casos diminuíram bastante na pandemia.” Já o aumento na comercialização dos monitores de pressão ocorre porque a hipertensão é um dos fatores de risco para o coronavírus. “Então, essa cultura de se ter um controle em casa de algumas possíveis doenças fez com que esses aparelhos tivessem esse estouro de vendas.” Otimista por natureza, como se define o executivo, ele prevê um 2021 movimentado, principalmente no período pós-vacina.