Parece um déjàvu do começo de 2020, quando a pandemia se espalhou pelo mundo, mas era dezembro de 2021 mesmo. No domingo (19), a Holanda entrou em um novo lockdown por causa da disparada de casos de contaminação com a variante ômicron do coronavírus. Até 9 de janeiro, nenhuma escola poderá funcionar. Estabelecimentos comerciais de atividades não essenciais e eventos culturais também estão proibidos por tempo indeterminado. Nem mesmo as ceias de Natal e Ano-Novo estão liberadas. Segundo o primeiro-ministro Mark Rutte, o limite de convidados por casa não pode passar de quatro pessoas.

“Infelizmente, o bloqueio é inevitável porque estamos entrando na quinta onda da pandemia e a variante ômicron pode tomar grandes proporções”, disse, em aviso aos cidadãos. Depois das festas de fim de ano, as reuniões fechadas serão limitadas a um máximo de dois convidados por casa. “A omissão de ação agora provavelmente levaria a uma situação incontrolável nos hospitais”, afirmou Rutte.

A ofensiva contra mais uma onda de casos e mortes não se limita à Holanda e, às vésperas de um período de festas e grande fluxo de turistas, vários países começam a adotar medidas mais rígidas. No dia seguinte ao lockdown holandês, o Ministério da Saúde do Reino Unido informou que também estuda impor mais restrições de circulação no país, incluindo fechamento de fronteiras. “A ômicron se espalha a um ritmo nunca visto antes, e vem dobrando a cada dois ou três dias”, disse o ministro da Saúde, Sajid Javid, ao jornal Daily Telegraph. Segundo o Grupo Científico para Emergências (Sage) do governo britânico, se outras medidas contra o coronavírus não forem adotadas, as internações hospitalares podem chegar a 3 mil por dia na Inglaterra, levando o sistema de saúde ao limite em poucas semanas.

No mesmo sentindo, a França anunciou que grandes eventos ao ar livre e encontros serão proibidos na véspera de Réveillon, sob o argumento de que o país está perto de ter a ômicron como variante dominante. A Dinamarca também avalia fechar cinemas e teatros, além de limitar o número de pessoas nas lojas nos últimos dias do ano.

ECONOMIA SEM AR Talvez tão preocupante quanto a saúde da população europeia seja a saúde da economia. O medo de um agravamento da pandemia fez com as bolsas europeias fechassem em queda na segunda-feira (20). O índice pan-europeu Stoxx 600, que avalia a performance das ações de empresas por todo o continente, caiu 1,38%. O economista-chefe da CMC Markets, Michael Hewson, avalia que a retração do mercado é diretamente proporcional às crescentes preocupações ao aumento dos casos da ômicron e a perspectiva de novas restrições de bloqueio durante o período de Natal e Ano-Novo. O índice FTSE 100, de Londres, fechou em queda de 0,99%, enquanto em Frankfurt, o índice DAX recuou 1,88%. Na Bolsa de Paris, o CAC 40 recuou 0,82% e em Milão, o índice FTSE MIB teve queda de 1,63%. O economista-chefe da IHS Markit, Chris Williamson já prevê que a Europa terá um fim de ano frustrante. “Não há dúvidas de que, com medidas duras para conter o vírus, a economia vai sofrer um duro golpe.”

E esses problemas enfrentados pelas economias europeias são um prenúncio do que pode acontecer em toda a economia mundial em 2022. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou no sábado (18) que a variante ômicron já está presente em 90 países e que se espalha mais rápido que a delta: o número de casos está dobrando no intervalo de apenas 1,5 a três dias. Nesse contexto, vacinas e medicamentos se tornam ainda mais urgentes. Tanto para garantia de saúde da população quanto para a economia, que não pode esfriar depois da leve retomada.

Na última semana, a farmacêutica americana Pfizer anunciou que estudos clínicos recentes confirmaram que sua pílula experimental para o tratamento da Covid-19, chamada de Paxlovid, reduz em quase 90% o risco de hospitalização ou morte pela doença em adultos e funciona também contra a ômicron.

Um estudo de larga escala divulgado na África do Sul indicou que duas doses da vacina da Pfizer-Biontech para a Covid-19 oferecem uma proteção de apenas 33% contra a variante ômicron, mas é 70% eficaz contra hospitalizações. Cientistas classificaram o resultado como encorajador, embora represente uma proteção menor do que a oferecida contra outras variantes. A OMS alertou que as baixas taxas de vacinação em regiões como a África oferecem um solo fértil para o aparecimento de novas variantes. Segundo a ONU, o continente africano pode ter de esperar até o segundo semestre de 2024 para vacinar 70% de seus 1,3 bilhão de habitantes — meta já atingida por muitos dos países mais ricos. Ao que tudo indica, o Natal e o Réveillon na Europa serão de poucas pessoas e muita tensão com o que está por vir em 2022.