O mundo foi sacudido pela notícia de uma nova variante da Covid-19, batizada de Ômicron, com origem na África. Bastou para abalar mercados, gerar incertezas e o temor de que um retrocesso, não apenas sanitário, como também econômico, estaria a caminho. A instabilidade gerada com esse advento foi capaz de engavetar planos de investimentos, mudar o curso do câmbio e dos resultados na bolsa. Paira, de novo, a incerteza. A simples ideia de que nações inteiras teriam de passar novamente pela paralisia predominante nos últimos tempos fez recuar, significativamente, o índice de expectativa do PIB, no Brasil e fora dele. Em Brasília, a equipe econômica entrou em prontidão. Técnicos da pasta de Paulo Guedes avaliam que a situação, que já não era boa, fez disparar o sinal vermelho. A paralisia da economia está no radar. Auxiliares do ministro temem que novas medidas de restrição social e de mobilidade, a serem definidas por governantes estaduais e municipais, possam comprometer a retomada do PIB. A incógnita está no ar. As dúvidas são muitas. Investidores, pelas análises divulgadas até aqui, desconfiam que a Ômicron teria uma taxa de contágio maior que o da capacidade de imunização das vacinas existentes. De uma maneira ou de outra, o vírus voltou à ordem do dia, inclusive nas reuniões de estratégia das empresas. Um balde de água fria foi lançado sobre alguns cenários otimistas de retomada que estavam vingando. Setores como o do turismo, serviços e varejo já são os mais afetados pela reviravolta de ânimo. O Banco Central informa que a pandemia, dada todas as condicionantes, deve, de fato, se prolongar. A instituição avalia que, frente a outros países, o Brasil vem indo bem nas metas de imunização, mas que isso não o deixa livre de consequências negativas futuras. O presidente do BC, Roberto Campos, demonstra preocupação com a dosagem da política monetária em virtude do avanço da variante. Já começa a avaliar que a quantidade de “remédio” de juros poderá ser ainda maior, de acordo com a evolução do quadro. O governo passou a cogitar, inclusive, a possibilidade de recriação do chamado “orçamento de guerra”. Caso a tensão no planeta avance, com um revival da pandemia confirmando os piores pesadelos, e a PEC dos Precatórios seja rejeitada no Congresso, o Ministério da Economia entende como única hipótese plausível a volta desse custoso “orçamento de guerra”. “Não tem mais de onde tirar”, receia um dos técnicos. As regras fiscais realmente estão sendo tocadas no limite e a busca da flexibilização delas é tida como alternativa derradeira para o Estado não quebrar. A vulnerabilidade trazida pela Ômicron também pode acelerar a quebra de patentes dos remédios em estudo até aqui. Uma revolução de procedimentos, que tem enorme resistência por parte dos laboratórios farmacêuticos envolvidos nas pesquisas. Inúmeros negociadores, mesmo assim, avaliam que caso a agressividade da Ômicron se confirme na dimensão prevista, a demanda pela quebra de patentes deve ganhar impulso e crescer entre os 64 países da OMC que debatem o tema. De uma forma ou de outra, uma nova etapa do impacto da pandemia sobre a economia está em curso.

Carlos José Marques Diretor editorial