Os espanhóis atacaram de novo no Brasil. Na terça-feira 9, a Obrascon Huarte Lain (OHL) entrou de sola na concessão das rodovias, descartando os concorrentes com deságios de até 65,43% e ofertas que chegaram a menos de R$ 1 por praça de pedágio. A agressividade lembrou o Santander, em 2000, que ofereceu R$ 7 bilhões pelo Banespa, quando o Bradesco não pagava mais do que R$ 3 bilhões. Na sua investida irresistível, a OHL arrematou cinco dos sete trechos leiloados. Só não levou os outros dois porque não quis. Assim, a OHL, que administrava 1.147 quilômetros de rodovias paulistas, passou a ser a maior concessionária brasileira em quilometragem, com 3.225,8 km, contra os 1.452 km da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), do grupo português Brisa, até então o líder. Os espanhóis implodiram o preço do pedágio no Brasil. O custo do pedágio nos 2,6 mil quilômetros licitados pela Agência Nacional de

Transportes Terrestres (ANTT) foi três vezes e meia menor do que são cobrados em média atualmente. Pela disputada rodovia Régis Bittencourt, a OHL ofertou R$ 1,364, metade do preço pedido pelo governo, mas seu lance mais surpreendente foi a proposta vencedora de R$ 0,997 para cada uma das oito praças da Fernão Dias (SP/BH). Dos investimentos totais de R$ 20 bilhões, a OHL participará com R$ 16,7 bilhões. A ministra Dilma Rousseff, maior artífice do leilão em novos moldes, comemorou: ?Nós mudamos o conceito de concessão. O negócio do governo, antes, era auferir lucros. Nós estamos fazendo um negócio para que as estradas tenham segurança, sejam boas e baratas.?

A presença das espanholas era esperada, mas a agressividade da OHL surpreendeu até mesmo o diretor-geral da ANTT, José Alexandre Rezende. ?Um dia José Carlos vai me explicar o que ele fez?, dizia Rezende. Ele se referia ao presidente da OHL Brasil, José Carlos Ferreira, que estava exultante. Presidente da subsidiária do grupo de 13,5 bilhões de euros, Carlos Ferreira diz que a empresa aposta no crescimento e na estabilidade da economia brasileira e no aumento de tráfego. Mas o espanhol está de olho mesmo no cenário do Brasil como país investment grade. ?Os novos trechos nos permitirão crescer com a remuneração adequada aos nossos acionistas?, prevê. O mercado, que esperava uma participação maior da CCR, teme que os baixos preços resultem em retornos financeiros menores e as ações do grupo caíram 3,25%. Na prática, os pedágios somente serão cobrados a partir de julho de 2008 e, pelo contrato, serão reajustados pelo IPCA ? previsto em torno de 4%. Se isso se confirmar, o preço para a Fernão Dias, por exemplo, subirá para R$ 1,04. De qualquer forma muito abaixo do mercado. A OHL levou ainda os 382,33 quilômetros da rodovia Mercosul (BR-116 e BR-376, no Paraná, e BR-101, em Santa Catarina) ao oferecer R$ 1,028 ? deságio de 62,67% sobre o teto de R$ 2,754 ?, o menor valor entre 17 lances.

Assim, quem for de Curitiba a Florianópolis pagará R$ 5,14 ao passar pelos cinco pedágios. Algo inimaginável para o motorista que atravessa os 402 quilômetros da Via Dutra (SP/RJ), passa por cinco praças e paga R$ 30,60. Seus baixos lances criaram um corredor entre Belo Horizonte e Florianópolis, por onde se pagará menos pedágio do que nas viagens pelo interior paulista. O trecho São Paulo/Ribeirão Preto sai, por exemplo, por R$ 36. Restaram a BR 309 (Volta Redonda/Além Paraíba), pela qual a espanhola Acciona briga na Justiça, e a BR 153 (Divisa MG/SP à divisa SP/PR), arrematada pela brasileira BRVias, consórcio liderado pela família Constantino, da Gol.

MELHORIAS: R$ 20 BILHÕES é o investimento inicial a ser feito nas estradas privatizadas

PEDÁGIO
R$ 0,99 é o valor da tarifa proposta pela OHL para a Fernão Dias

Os espanhóis começaram suas investidas no Brasil na década de 90, com as privatizações. Hoje estão na telefonia, com a Telefonica; na energia elétrica, com a Ampla; no setor de gás natural, com a CEG, do Rio de Janeiro; e recentemente os americanos perderam o controle do tradicional Hotel carioca Le Méridien para o Iberostar. A Espanha já é o quarto maior investidor direto no Brasil e nos últimos dois anos investiu mais de US$ 14,2 bilhões. Na últim semana, ao comprar na Europa o holandês ABN Amro, o Santander se tornou o segundo maior banco privado do País, à frente do Itaú. A exemplo do que aconteceu no leilão de rodovias, o preço da compra do ABN, de US$ 71 bilhões, foi considerado absurdo pelo principal concorrente, o Barclays, que ofereceu US$ 62,1 bilhões. Mas os espanhóis não rasgam dinheiro. Sabem o que fazem.