A investigação na Colômbia sobre os subornos pagos pela Odebrecht tem resultados menos espetaculares que em outros países, mas as mortes de uma testemunha-chave e de seu filho – envenenado – introduziram incerteza e dramatismo na maior trama de corrupção descoberta na América Latina.

Dez países da região estão envolvidos na rede de subornos montada pelo grupo brasileiro para obter contratos. O escândalo, que explodiu em 2014 no Brasil, entra agora por caminhos violentos na Colômbia.

O engenheiro Jorge Pizano, que sofria de um câncer linfático, morreu por um aparente infarto no dia 8 de novembro.

Pizano foi auditor financeiro do consórcio formado pela Odebrecht e a Corficolombiana, empresa do homem mais rico da Colômbia, o influente banqueiro Luis Carlos Sarmiento.

Três dias depois da morte do engenheiro, no domingo passado, seu filho Alejandro morreu envenenado com cianeto após beber água em uma garrafa que estava no escritório de Pizano.

A morte de Alejandro provocou a abertura de uma investigação sobre o óbito de Jorge Pizano, testemunha-chave no caso envolvendo a Odebrecht e a construção da Estrada do Sol II, que liga o centro ao norte do país.

Nesta sexta-feira, o exame realizado no corpo de Pizano “deu resultado negativo para cianeto”.

“Não se encontrou cianeto em qualquer dos tecidos e nem na solução onde estavam os tecidos”, declarou Carlos Eduardo Valdés, diretor do Instituto de Medicina Legal.

O corpo de Pizano foi cremado, mas o centro médico conservou certos tecidos que permitiram os exames.

Pizano deixou informações gravadas – para o caso de falecer ou receber proteção no exterior – de que o atual procurador-geral da Nação, Néstor Humberto Martínez, sabia desde 2013, antes de chegar ao cargo, do esquema de corrupção da Odebrecht no país.

“Ele era a prova de que os subornos na Colômbia não foram apenas da Odebrecht. Havia uma teia de corrupção formada desde o início da concessão da obra (…) conquistada pela Odebrecht em associação com Luis Carlos Sarmiento”, disse à AFP a jornalista María Jimena Duzán, que conversou com Pizano horas antes de sua morte.

Apesar da doença, Pizano não aparentava desânimo e o que ocorreu com seu filho aumenta as suspeitas em torno de sua morte.

“Pizano temia ser morto pelo que sabia do caso da Estrada do Sol”, revelou o senador Gustavo Petro, baseado em informações que obteve com seu assessor de imprensa.

Segundo Petro, o ex-auditor tentava um acordo com a justiça dos EUA, a quem a Odebrecht entregou provas sobre a rede internacional de corrupção em 2016.

Pizano seria ouvido pelas autoridades colombianas, mas o depoimento foi adiado porque o procurador encarregado do caso sofreu um grave acidente de trânsito.

Em meados de outubro, o procurador Amparo Cerón sofreu um acidente de trânsito durante suas férias no Chile e passou vários dias na UTI, ficando impedido de retornar à investigação.

Na gravação entregue ao Canal Uno, Pizano revelou que compartilhou suas suspeitas com Martínez sobre a Estrada do Sol.

Martínez declarou que não denunciou o caso porque Pizano “não tinha certeza” de que suas suspeitas configuravam crime.

O procurador-geral Martínez também alegou em sua defesa a decisão de se afastar do caso diante do evidente conflito de interesses.

A Odebrecht pagou mais de 3 bilhões de dólares em subornos na América Latina e em países como Angola e Moçambique.

Na Colômbia, a Procuradoria identificou 32,5 milhões de dólares em subornos envolvendo seis contratos, incluindo dinheiro relacionado a campanhas presidenciais.