Ações e outros ativos dos EUA vêm subindo em ritmo incompatível com a expectativa de crescimento econômico, ameaçando enfraquecer ou comprometer uma recuperação já modesta se eles eventualmente reverterem a tendência de alta, segundo relatório publicado hoje pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos últimos 12 meses, o Dow Jones Industrial Average acumulou valorização de mais de 23% em Nova York, com quase metade dos ganhos registrada nos últimos três meses. Mas 2016 foi um ano decepcionante para os EUA e para a recuperação global, e a OCDE, que tem sede em Paris, não espera que 2017 seja muito melhor.

“Não há nenhum fundamento real ainda para sustentar o que temos visto, particularmente, nos mercados acionários”, comentou a economista-chefe da OCDE, Catherine Mann. “Em algum momento, os mercados vão voltar para a terra e veremos que tipos de vulnerabilidades surgirão.”

Em documento atualizando suas projeções para a economia global, a OCDE demonstrou preocupação com o acúmulo de dívidas em anos recentes, num momento em que as taxas de juros tendem a subir. A proporção de endividamento do setor privado em relação à produção econômica anual está hoje em níveis que no passado ajudaram a provocar crises financeiras, ressaltou Mann. E em alguns países – principalmente, na Austrália, Canadá, Suécia e Reino Unido – os preços de moradias estão avançando em ritmo que servem de presságio para uma desaceleração econômica.

Segundo a OCDE, a exuberância dos mercados de ativos fortalece sua convicção de que está na hora de os bancos centrais encerrarem o papel de principais provedores de estímulo econômico.

“Estamos ficando cada vez mais preocupados com a necessidade de a política monetária passar o bastão adiante”, disse Mann. “Isso é exatamente o tipo de sobrecarga da política monetária sobre a qual vínhamos alertando.”

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) está liderando os esforços para a retirada de estímulos e muitos investidores esperam que a instituição eleve juros pela terceira vez desde o fim de 2015 quando se reunir nos próximos dias 14 e 15. Embora o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) devam manter seus atuais programas de estímulos, “há pouco espaço para mais medidas”, avaliou a OCDE.

Ainda que os BCs estejam revendo suas estratégias, a OCDE acredita que a economia global não conseguirá escapar do que chama de “armadilha do baixo crescimento” sem alguma ajuda da política monetária. A entidade recomenda que os governo ampliem gastos e implemente reformas.

A OCDE elevou levemente sua projeção de crescimento econômico dos EUA para 2017, de 2,3% para 2,4%, mas reduziu a de 2018, de 3% para 2,8%. As previsões anteriores, de novembro, levavam em consideração um possível pacote de aumento de gastos e cortes de impostos do presidente Donald Trump, assim como uma produção maior de petróleo.

De modo geral, as projeções da OCDE pouco mudaram em relação às de novembro. A entidade continua prevendo que a economia global crescerá 3,3% este ano e 3,6% no próximo, o que significaria uma aceleração ante a taxa de 3% de 2016, mas ainda bem inferior ao desempenho visto antes da crise financeira.

No entanto, há uma série de coisas que podem dar errado e afetar as perspectivas de crescimento. Ainda que a postura fiscal do novo governo dos EUA deva ajudar a economia, o desejo de Trump de rever as principais relações comerciais de Washington podem atuar no sentido contrário.

A maior preocupação da OCDE é que haja um “surto de protecionismo que gere um prejudicial ciclo de retaliação”.

A OCDE também elevou sua projeção de crescimento do Reino Unido este ano, de 1,2% para 1,6%, admitindo que superestimou o impacto imediato da vitória do chamado “Brexit” – processo para a retirada do país da União Europeia -, em junho do ano passado. De qualquer forma, a OCDE ainda prevê que a economia britânica desacelerará à medida que o Brexit de fato se aproximar, em 2019. Fonte: Dow Jones Newswires.