Tratando-se de alguém que se esforçou para se manter fora do radar político, Barack Obama dificilmente poderá ter um papel decisivo na dura batalha pela nomeação democrata à Casa Branca.

O 44º presidente dos Estados Unidos foi citado dezenas de vezes nos debates nas primárias e protagonizou, sem querer, anúncios de campanha no período prévio às primárias da Carolina do Sul e “Superterça”.

Até o momento, Obama respeitou estritamente sua promessa de permanecer fora da disputa, embora tenha lançado algumas advertências.

“O americano médio não acredita que tenhamos que derrubar completamente o sistema e reconstruí-lo”, disse em uma reunião de arrecadação de fundos em novembro.

O ex-presidente dos Estados Unidos também argumentou que a maioria dos eleitores não tem as mesmas opiniões que “a ala ativista” do Partido Democrata, em uma advertência sobre a guinada à esquerda prometida pelo senador socialista Bernie Sanders.

“Obama é extremamente popular dentro do Partido Democrata e particularmente entre os afroamericanos, comunidade eleitoralmente determinante em muitos estados”, incluindo a Carolina do Sul, avalia Kyle Kondik, analista do Centro de Política da Universidade de Virgínia.

– O que acontece com Bernie? –

Ninguém está usando sua relação com o primeiro presidente negro do país de maneira mais árdua do que Joe Biden, que era vice-presidente de Obama e agora busca um novo impulso após as perdas sofridas nas três primeiras primárias.

Segundo o The New York Times, os dois conversaram na última terça-feira véspera da primária de sábado na Carolina do Sul, momento importante para Biden.

Sanders, entretanto, lidera as preferências dos democratas e os moderados do partido estão preocupados com as chances limitadas deste senador de 78 anos contra Donald Trump.

No entanto, as primárias da “Superterça” da próxima semana podem deixar Sanders com uma vantagem praticamente insuperável em relação a seus rivais.

“Se existe uma maneira de parar, ou pelo menos atrasar, Sanders, é o ex-presidente Barack Obama e à ex-primeira-dama Michelle Obama se alinharem com um candidato alternativo ao senador de Vermont”, opinou o comentarista da CNN Chris Cilizza nesta semana.

“Não só isso, mas os Obama se pronunciarem logo, antes da Superterça, pedindo a todos os demais candidatos para deixarem a disputa o quanto antes”.

Em novembro, a imprensa americana levantou a possibilidade de Obama fazer uma declaração pública caso Sanders se distanciar muito dos demais candidatos, na tentativa de impedir que ele seja o nomeado.

– À margem –

Se Obama se manifestasse, sua opinião ressoaria, mas poucos acreditam que ele fará isso.

“O presidente Obama tem vários amigos nesta disputa, incluindo, é claro, seu querido vice-presidente”, disse a porta-voz Katie Hill nesta semana em comunicado.

“Ele disse que não tem planos de apoiar alguém nas eleições primárias porque acredita que, para que os democratas tenham sucesso neste outono, os eleitores devem escolher seu candidato”.

Em 2016, Obama apoiou Hillary Clinton, sua ex-secretária de Estado, apenas quando ficou claro que ela venceria Sanders na indicação.

O ex-presidente, no entanto, opinou sobre eleições em outros países, apoiando formalmente Emmanuel Macron na França e Justin Trudeau no Canadá.

– Obama ficaria ao lado de Sanders? –

O bilionário Michael Bloomberg, a senadora progressista Elizabeth Warren e o ex-prefeito de Indiana Pete Buttigieg também tentaram se associar de alguma forma ao legado de Obama. Todos o citaram para sustentar suas posições políticas.

Ex-presidentes americanos geralmente evitam apoiar candidatos depois de deixarem o cargo, com a notável exceção de Bill Clinton, que apoiou sua esposa nas primárias de 2008 e 2016, explicou Kondik.

“Não tenho ideia se Obama poderia apoiar alguém, mas não há sinais de que fará isso. Ele, como muitos outros democratas, pode estar honestamente em conflito sobre quem ele apoiará”, acrescentou o analista.

Kondik disse estar curioso sobre se Obama falará na convenção democrata de julho caso Sanders consiga a nomeação.