Um incisivo editorial do britânico Financial Times na quinta-feira 23 compara o Brasil a “um filme de terror sem fim”. Sem sutilezas, o diário econômico diz que “incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia” do País. São os ingredientes de um roteiro que conhecemos bem. Nós, brasileiros, somos figurantes nessa trama macabra, envolvidos a cada dia em novos episódios assustadores. Em um deles, na semana passada, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aparece contracenando com o colega Nelson Barbosa. Eles anunciam a redução, a praticamente zero, da meta de superávit fiscal do governo. A cena é assustadora. Não pelo que se vê, mas pelo que se esconde por trás da decisão.

Ao afrouxar o cinto que ele mesmo havia colocado nas contas estatais, Levy sucumbiu a forças nefastas, que destruíram, em uma canetada, meses de empenho em favor do ajuste fiscal e, agora, ameaçam sugar-lhe definitivamente a credibilidade. O impacto recessivo imediato dos cortes propostos pelo ministro assombrava os petistas, que desde já vislumbravam uma catástrofe eleitoral em 2016. A pressão política, então, falou mais forte, transformando o projeto original de Levy em um zumbi. Dias antes de anunciar o alívio nas contas, o ministro dizia que reduzir a meta apenas prorrogaria o sofrimento e retardaria a volta do crescimento econômico.

Agora, além de administrar esse cenário mais devastador, terá de se revelar um grande ator, capaz de convencer o mundo de que ainda é possível controlar o ímpeto governista de conceder benesses a congressistas para tentar evitar a evolução de um eventual processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. As primeiras reações do mercado foram de descrédito e é possível que as agências de risco rebaixem a nota do Brasil. Levy, até então, era visto por elas como o mocinho desse filme B. Agora enfraquecido, é difícil prever seu destino.

(Texto de Luiz Fernando Sá, diretor de mídias digitais)