A concentração em grupos não é novidade no setor aéreo. Foi assim, por exemplo, que em 2010 surgiu a Latam, fusão da chilena Lan com a brasileira TAM. E, 12 anos depois, o segmento voltou a se agitar com o anúncio na quarta-feira (11) que a Gol, pertencente à família Constantino, e a colombiana Avianca passarão a ser controladas por uma holding chamada de Abra, segundo comunicado emitido pelas empresas. “Este acordo coloca as companhias aéreas do Grupo Abra em posição de liderança em viagens aéreas na América Latina, atendendo a uma população de mais de um bilhão de pessoas e um PIB de quase US$ 3 trilhões, e oferecendo oportunidades significativas de capacidade e crescimento de receita”, afirmou Constantino de Oliveira Junior, presidente do conselho de administração da Gol e que agora será CEO do Abra.

A expectativa é de que que o negócio seja concluído ainda no segundo semestre deste ano. O Abra Group Limited será uma empresa de capital fechado incorporada no Reino Unido e também terá participação econômica não controladora nas operações da companhia aérea Viva, na Colômbia e no Peru, e uma participação minoritária na Sky Airline, do Chile. De acordo com a nota, “alguns investidores financeiros se comprometeram a investir até US$ 350 milhões em ações” do Grupo Abra após o fechamento da transação. A capitalização será feita por acionistas da Avianca, como Elliott International, Kingsland e South Lake.

Gol e Avianca manterão operações independentes, enquanto “se beneficiam de maior eficiência e investimentos feitos pelo mesmo grupo controlador”, diz a nota. Entre os benefícios, a Abra fornecerá uma plataforma para que as companhias reduzam ainda mais os custos, obtenham maiores economias de escala, além de expandir rotas, serviços, ofertas de produtos e programas de fidelidade. Outras possíveis vantagens para as duas empresas são redução nos custos com a integração de rotas, maior capacidade na negociação do preço de combustíveis, barateamento de manutenção, além de possibilidade de economia na compra conjunta de suprimentos.

Sergio Neves

Este acordo coloca as aéreas do Abra na liderança em viagens na América Latina, atendendo
1 bilhão de pessoas e um PIB de quase US$ 3 trilhões” Constantino Junior CEO do Abra.

As bandeiras somadas equivalem a uma receita anual de US$ 7 bilhões e a uma frota de quase 300 aviões. E existe a expectativa de que os negócios combinados tenham potencial para aumentar o faturamento para até US$ 10 bilhões e a uma expansão para até 500 aeronaves no total.

A estrutura corporativa única permite, na visão de Oliveira Junior, que cada companhia aérea gere resultados mantendo independentes suas marcas, equipes e cultura. “Além de proporcionar aos colaboradores mais oportunidades de crescimento pessoal e profissional em todas as fases da carreira”, disse no comunicado.

O salvadorenho Roberto Kriete, cofundador da Avianca Holdings S.A e agora chairman do Grupo Abra, destacou uma série de benefícios aos passageiros das duas companhias. “Terão acesso a tarifas melhores, a mais destinos, a maior frequência de voos e conexões bem sincronizadas.” Além disso, segundo o executivo, os clientes poderão acumular e resgatar pontos nos programas de fidelidade das bandeiras.

Divulgação

“Haverá tarifas melhores, mais destinos, maior frequência de voos, conexões bem sincronizadas e programa de fidelidade” Roberto Kriete Chairman do Abra.

A nova configuração coloca lado a lado a Gol, uma das maiores empresas do setor no Brasil, e a Avianca, com operações na Colômbia, Equador e El Salvador, além de rotas para América Central, América do Norte e Europa. A companhia pertencente à Avianca Holdings S.A não tem qualquer relação com a Avianca Brasil, marca comercial da Oceanair e que teve a falência decretada pela Justiça brasileira em 2020, por causa de dívidas superiores a R$ 2,7 bilhões. Afetada pela pandemia, a Avianca Holdings S.A chegou a entrar em recuperação judicial em 2020 nos Estados Unidos, mas evitou o processo de falência ao ter o plano de recuperação aprovado no final de 2021.

A Avianca Holdings opera 130 rotas na América Latina. Com 102 anos de história, a companhia é considerada a aérea mais antiga em operação nas Américas e a mais velha em atividades ininterruptas. Já a Gol tem 33,6% de participação no mercado doméstico brasileiro, atrás da Latam (35,1%), segundo dados de março da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).