Há pouco mais de um mês, a J&F tornou pública a intenção de vender boa parte de seus ativos. Na esteira das delações dos irmãos Batista, seus controladores, a empresa iniciava uma saga de captação de recursos para, entre outras questões, quitar uma dívida de cerca de R$ 21 bilhões, que inclui uma multa de R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal. Na estratégia, o grupo colocou na prateleira negócios como a Eldorado Celulose, a Alpargatas e algumas operações da JBS no exterior. Antes dos escândalos que desencadearam esse processo, no entanto, a Vigor, companhia de laticínios da holding, já era alvo de especulações. No páreo por sua aquisição, despontavam como favoritas a francesa Lactalis e a americana PepsiCo, gigantes que já possuíam presença no País.

Dentro do extenso portfólio do grupo mexicano, o carro-chefe são os variados tipos de leite, que registraram uma participação de 63% no faturamento em 2016

Na quinta-feira 3, o martelo foi batido. E o fim da disputa trouxe à tona um nome também cogitado, mas praticamente desconhecido no mercado brasileiro: o grupo mexicano Lala. A aquisição mostra que o Lala chega com apetite no mercado brasileiro. O acordo foi fechado por R$ 5,7 bilhões e inclui 50% de participação na Itambé. Dona de uma receita de R$ 5,2 bilhões em 2015, último resultado divulgado antes de fechar capital, a Vigor possui cerca de 7,6 mil funcionários, 31 centros de distribuição e 14 fábricas no País, além de um portfólio com marcas como Vigor, Danubio, Faixa Azul, Leco, Amelia e Serrabella. “A Vigor será nossa plataforma de crescimento do Lala no Brasil”, afirmou Scot Rank, CEO da companhia, em comunicado sobre a transação. Ex-CEO do Walmart no México, o executivo está à frente do Lala há dois anos.

No comando: Scot Rank, CEO do Lala, está acelerando a expansão do grupo (Crédito:Divulgação)

Fundado em 1950, na região norte do México, o Lala consolidou, nas décadas seguintes, sua presença por todo o país e tornou-se a maior empresa local de laticínios. Com um portfólio de mais de 600 produtos, o grupo tem no portfólio extenso de leites sua principal fonte de renda. A divisão representou 63% da receita de US$ 2,5 bilhões em 2016. Em seguida, ficaram os negócios em categorias como iogurtes, manteigas, sorvetes e queijos, com uma fatia de 31%. A parcela restante envolve chás, sucos e outras bebidas. Para os analistas consultados pela DINHEIRO, a aquisição vai ao encontro de duas frentes cada vez mais relevantes na estratégia do Lala. “Com a mudança na gestão, há dois anos, a empresa começou a comprar ativos na América Central e entrou nos Estados Unidos”, diz José Antonio Cebeira González, analista de alimentos e bebidas da corretora mexicana Actinver.

Um dos destaques desse plano foi a compra, por US$ 246 milhões, de ativos da americana Laguna Dairy, em 2016. Com um mercado de lácteos que movimentou R$ 22 bilhões em 2016, segundo a Euromonitor, o Brasil é, talvez, o passo mais ambicioso dado pelo Lala no exterior até o momento. E se encaixa em outro plano que vem ganhando peso para o grupo: o investimento em produtos com margens mais rentáveis, como os iogurtes. A Vigor se destacou nesse segmento ao trazer a categoria de iogurte grego para o Brasil, uma estratégia que, posteriormente, foi copiada por concorrentes. “A Vigor está muito bem posicionada em produtos de mais valor na cadeia do leite”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, que destaca uma possível contrapartida nesse intercâmbio. “Certamente, o Lala trará para o Brasil uma série de novidades que vem testando nessa área em outras operações.