O presidente americano Donald Trump alegou questão de segurança nacional para anunciar uma sobretaxa de 25% no aço e 10% alumínio, no dia 8 de março, trazendo de volta o fantasma de uma guerra comercial entre as nações. Na semana passada, o mesmo argumento foi utilizado para barrar a negociação entre a asiática Broadcom, com sede em Cingapura, e a americana Qualcomm. O negócio de US$ 121 bilhões, caso fosse concretizado, seria o maior da história do setor de tecnologia, atrás apenas da compra da EMC pela Dell, por US$ 67 bilhões, em 2015.

Com valor de mercado de US$ 88,9 bilhões, a Qualcomm produz processadores para smartphones Android e trabalha no desenvolvimento da rede de internet móvel 5G, tecnologia que deve chegar aos celulares neste ano. A Broadcom, por sua vez, fabrica desde processadores até modems e placas de rede Wi-Fi e GPS. Juntas, elas seriam a terceira maior empresa do mundo no setor de semicondutores, atrás apenas de Samsung e Intel. “Essa aquisição hostil poderia destruir a Qualcomm e isso vai totalmente contra os interesses americanos”, afirma Rob Enderle, analista da consultoria americana Enderle Group. “Existe uma acirrada disputa tecnológica entre os Estados Unidos e a China.”

A relação comercial dos dois países está por trás dessa decisão de Trump – mesmo que a companhia em questão seja de Cingapura. “As empresas asiáticas não enfrentam problemas para se instalarem nos EUA”, afirma Geraldo Nazig Zahran Filho, professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP. “A dificuldade está quando elas tentar adquirir uma companhia americana.” Faz sentido. Uma lei aprovada pelo Congresso americano neste ano proibiu o governo de fazer negócios com duas empresas de telefonia chinesas: a Huawei e a ZTE. Mas há outras razões.

Uma pesquisa que ainda está sendo concluída, citada pela revista britânica The Economist, indica que o roubo de propriedade intelectual pela China tem custado aproximadamente US$ 1 trilhão às companhias americanas. Com o veto de Trump, a Broadcom anunciou que encerrou as negociações. O foco agora deve ser em outras empresas que atuam no mesmo mercado. As mais cobiçadas são a também americana Xilinx, de menor porte, que vale US$ 19,3 bilhões, e a israelense-americana Mellanox, com valor de mercado de US$ 3,8 bilhões.