A Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) fez história navegando em mares internacionais. Até este momento, exporta 95% de tudo o que produz no País. Mas a maré baixa de negócios no exterior ? provocada principalmente pela queda do preço do aço ? obrigou a empresa a retornar à costa brasileira. Trata-se de um movimento inédito em 17 anos de atividade. A CST volta carregando um projeto ousado de diversificação para atender também ao crescimento da demanda interna por produtos siderúrgicos mais nobres. ?Com essa estratégia, nos protegemos de eventuais mudanças bruscas de humor do mercado internacional?, afirma o presidente José Armando Campos. Cerca de US$ 600 milhões estão sendo aplicados na construção de uma usina de laminados de tiras a quente ? matéria-prima para os laminados a frio e os galvanizados, produtos de maior valor agregado utilizados principalmente pelo setor automotivo, construção civil e indústria naval. ?A recuperação da economia impulsionou a venda de aço no Brasil?, explica. Dentro de dois anos, a companhia espera obter os primeiros resultados de sua estratégia. Até lá, as vendas terão uma nova composição: as exportações passarão a representar 80%. ?Isso é só o início?, avisa Campos.

O movimento da empresa, instalada no Espírito Santo, em direção a outros segmentos mais rentáveis da siderurgia poderá se fortalecer ainda mais no começo do próximo ano. Até março deverão estar concluídos os estudos sobre a viabilidade de a CST abocanhar 17,5% de participação da empresa Vega do Sul, um projeto de US$ 400 milhões da francesa Usinor (uma das controladoras da Tubarão), da canadense Dofasco e do grupo espanhol Riberas. ?Recebemos a proposta para participar do negócio como acionistas e isso está sendo discutido?, adianta Campos.

A empresa já tem garantido contrato de exclusividade para fornecer laminados a quente para a Vega e, caso entre na sociedade, passa a atuar no mercado de galvanizados, um dos mais disputados do setor. É um grande negócio. Os sócios da Vega querem conquistar pelo menos 30% do mercado nacional de galvanizados. Em dois anos, o setor movimentará 1,3 milhão de toneladas.

Com todas essas novidades, Tubarão estará vivendo, nos próximos dois anos, uma fase de transição. A capacidade atual de produção de até 4,7 milhões de toneladas de placas de aço não será capaz de atender à demanda dos mercados interno e externo. Somente para as operações de sua fábrica de laminados a quente e da Vega do Sul, a CST vai destinar metade de sua produção atual. Com isso, sobrariam pouco menos de 2,5 milhões de toneladas para os negócios internacionais. Como não quer perder participação em mercados importantes ? principalmente nos EUA, Europa e Ásia ?, a saída estudada pela companhia é a construção de uma nova unidade para fabricação de placas, que elevaria a produção, em dois anos, para 7,5 milhões. A nova usina exigirá mais de US$ 600 milhões de investimento.

As mudanças que chacoalham a siderúrgica são exigência do mercado. A CST, privatizada em 1992, levou vários sustos no exterior nos últimos anos. Entre 1997 e 1998, as crises asiática e russa comprometeram seu desempenho. A empresa, que tinha lucros seguidos desde 1993, amargou prejuízo equivalente a US$ 56 milhões em 1998. Em 1999, a mudança na política cambial brasileira foi a vilã. O balanço ficou vermelho em US$ 200 milhões. Em 2000, a empresa esbarrou, principalmente no segundo semestre, na queda dos preços internacionais. Mas, reagiu bem. Nos nove primeiros meses, o lucro chegou a R$ 156 milhões. Neste ano, a receita deverá atingir US$ 1 bilhão. ?As experiências negativas passadas nos orientaram a uma mudança de rumos?, explica o presidente da Tubarão.