A Turquia faz tremer o mundo, Brasil incluído, e assim os emergentes em especial voltam a ser varridos por uma onda de desconfiança. Trump é o dono da cabeça a maquinar sabotagens contra essas economias. No passado recente ele aplicou sobretaxas a vários mercados, numa tática tão protecionista como ilegal. Agora volta ao confronto com restrições financeiras para resolver pendências políticas com os turcos. Determinou a aplicação de tarifas adicionais sobre o aço (de 50%) e o alumínio (de 20%) que são comprados daquele País. A combalida praça turca não aguentou. A moeda chegou a desvalorizar mais de 40%.

Já derreteu cerca de 80% de seu valor em menos de um ano. O nome do problema tem endereço e papel definido: o atual presidente Recep Tayyip Erdogan, que conduz a Nação com mãos de ferro. Erdogan ampliou poderes com as eleições em julho passado e vem colocando os pés pelas mãos na gestão do governo. Indicou o genro para ministro da Fazenda, recusa-se a adotar medidas restritivas para controlar a inflação e desajustou por completo o balanço de pagamentos, colocando em pânico tanto investidores como financiadores. Nada disso seria problema incontornável caso não adicionasse ao coquetel de desafios a antipatia do colega norte-americano.

Trump não gostou nada da recusa de Erdogan ao pedido de libertação do pastor americano Andrew Brunson, preso em Ancara desde 2016. Erdogan exigiu em troca que os EUA extraditassem o clérigo muçulmano Fethullah Gulen, a quem Ancara acusa de envolvimento em um golpe contra Erdogan. As negociações não evoluíram. A crise bilateral agravou-se e Trump partiu a ofensiva no campo que lhe é favorável. A Turquia está em uma séria encruzilhada. O autoritarismo de Erdogan e a incompetência de sua equipe não colaboram em nada para uma saída no curto prazo. O déficit em transações correntes já alcança 5,5% do Produto Interno Bruto, o encarecimento dos bens importados – devido à desvalorização da moeda – tem pressionado ainda mais a inflação.

A hostilidade de Erdogan é criticada pelo mundo inteiro e ele apenas responde que o país está sob ataque de “terroristas econômicos”, que operam através da disseminação de fake news sobre as reais condições da Turquia. Seu discurso em muito se assemelha ao de Nicolás Maduro, da Venezuela, que enfrenta dissabores em maior medida na economia do seu país e também culpa os americanos por suas dificuldades. O ponto curioso a observar nessa querela Erdogan/Trump é o seu poder de contaminação sobre os demais mercados.

Mesmo europeus e até a Bolsa de Valores de Nova York acusaram o golpe. No caso do Brasil, o Tsunami Erdogan bateu também com força, especialmente na cotação do câmbio, apesar do folgado volume de reservas nacionais (girando algo da ordem de US$ 370 bilhões), da inflação contida e do pequeno déficit em conta corrente, inferior a 1% do PIB e facilmente financiável pelo volume de recursos disponíveis aqui. Coisas da globalização! Erdogan foi o mote para incrementar um pouco mais as especulações.

(Nota publicada na Edição 1083 da Revista Dinheiro)