Em todo o mundo tem havido uma mudança de comportamento em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade. A discussão sobre esses temas já ocorre há anos, mas ganhou muito mais força recentemente, quando as pessoas passaram a adotar novos hábitos e buscar soluções mais sustentáveis em seu cotidiano. No Brasil, essa evolução é marcada pela utilização de meios de transportes que causem menos impacto ao meio ambiente, como patinetes e bicicletas, a utilização de combustíveis mais limpos, a redução no uso de sacolas e canudos de plástico, entre outras medidas. E esse movimento só tende a crescer no futuro próximo.

O estudo global Earned Brand 2018, que mede a relação entre pessoas e marcas, revelou que 64% das pessoas no mundo compram ou boicotam uma marca em virtude de sua posição sobre questões sociais ou políticas. O índice cresceu 13% em comparação a 2017. Ou seja: há uma valorização cada vez maior por parte dos consumidores de marcas que pensam em prol de um futuro mais justo e sustentável.

Mas as pessoas também se preocupam com as medidas adotadas pelas empresas quando o assunto é a logística? De nada adianta comprar um produto que consideramos mais sustentável se desconhecermos o processo que o levou até o cliente final. Logo, para que o consumo seja totalmente consciente, é importante saber como a mercadoria chegou aos pontos de distribuição ou de vendas e, em seguida, até suas mãos. Pesquisas mostram que a cadeia de logística consome entre 9% e 12% de toda energia do mundo — proveniente do petróleo e de fontes de energia poluentes e não renováveis. No Brasil, esse percentual pode chegar a 19%, o que destaca o impacto da logística na cadeia de consumo.

Aprimorar as soluções de transporte de carga, função primária da logística, não envolve só uma questão de infraestrutura ou de eficiência, mas também um passo importante para pensarmos em como diminuir o impacto ambiental.

Grandes marcas já começaram a colocar esse pensamento em prática. Um exemplo disso é que o Programa de Logística Verde (PLVB), iniciativa organizada por 28 empresas com a coordenação técnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), registrou um aumento de 78% no número de empresas membros desde 2016 — saindo de seis participantes para quase 30 este ano —, abrangendo quase todos os segmentos da economia.

O programa incentiva a aplicação de boas práticas que visam reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera, além de aumentar a segurança, confiabilidade, flexibilidade e capacidade de operação da frota, reduzindo custos operacionais e melhorando a eficiência energética no transporte. Entre as medidas propostas destacam-se a renovação e modernização da frota e a utilização de sistemas de informação para o monitoramento de veículos, que podem reduzir emissões em até 30%.

Se pudéssemos desenhar o futuro ideal, as ferrovias teriam mais espaço no Brasil como forma de transporte sustentável para o transporte de carga. Usadas em países como Rússia, Austrália e China, podem reduzir em 40% os custos operacionais, sem contar a redução em 47% no uso de energia e 50% na emissão de dióxido de carbono (CO2). A educação também é um aliado importante: um breve treinamento com os motoristas é capaz de diminuir, em média, cerca de 7% do consumo de combustível em um veículo comercial.

Números como esses nos incentivam a continuar atuando em prol da sustentabilidade, levando em consideração todas as variáveis das indústrias e ajustando-as para chegar a um modelo que traga mais resultados para as empresas, mas cause menos danos ao meio ambiente. Mesmo com os problemas de infraestrutura do Brasil, acreditamos na capacidade das empresas de desenvolver práticas mais sustentáveis em suas logísticas.

(*) Marcio D’Agosto é coordenador do Laboratório de Transporte de Carga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Cíntia Machado é professora do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca