A quarta-feira (19) ficará na história dos mercados de criptoativos. Já bastante voláteis, as cotações da bitcoin, criptomoeda mais negociada, oscilaram ao ponto de obrigar as principais bolsas a interromper os negócios. Durante o dia, as cotações caíram 31% durante a manhã para se valorizarem 33% no período vespertino. E no fim da manhã da quinta-feira (20), a bitcoin valia US$ 41,6 mil, em linha com os preços do início de fevereiro deste ano. A conta dos profissionais do mercado é que as tempestades de maio fizeram desaparecer US$ 1 trilhão em valor de mercado das criptomoedas.

Essas flutuações violentas têm duas causas. Uma delas fala demais: o empresário Elon Musk. A outra quase não fala: o governo da China. Musk alardeou em fevereiro que sua empresa, a Tesla, aceitaria criptomoedas como pagamento, e que havia comprado mais de US$ 1,5 bilhão em bitcoins. Musk tuitou na segunda-feira (17) que havia mudado de ideia. O bitcoin, disse ele, é antiecológico pois sua mineração consome muita energia. Mesmo assim, ele afirmou na quarta-feira (20) que a Tesla manteria as criptomoedas na carteira.

Não bastasse a eloquência de Musk, o governo chinês informou, também na terça-feira, que vai estabelecer novas regras para os criptoativos, proibindo instituições financeiras e empresas de pagamento de fornecer serviços relacionados a transações com criptomoedas. A intenção de Pequim é simples: promover uma criptomoeda made in China, a ser lançada pelo Banco do Povo, o banco central chinês. Foi a gota d’água que faltava para transbordar o pote, provocando a derrocada dos preços. Até o ether, a segunda moeda digital mais valiosa e que teoricamente não seria afetada pelas decisões, perdeu 21% do seu valor em um dia.

VOLTA ATRÁS Depois de impulsionar as moedas digitais, o fundador da Tesla mudou de ideia e ajudou a empurrar o mercado para baixo.

RISCO Essa volatilidade vem chamando a atenção das autoridades monetárias. Em seu último relatório, o Banco Central Europeu (BCE) já alertava para a formação de bolhas de preços nesses ativos e para riscos sistêmicos. Momentos de pânico amplificam o tráfego nas redes de blockchain, o que pode comprometer sua capacidade de processar operações. Coinbase e Binance, as principais bolsas, chegaram a excluir usuários de suas contas no solavanco anterior, em 2017. No Brasil, as exchanges registraram tráfego até 20% maior do que a média, movimentando mais de R$ 1 bilhão só na quarta-feira (19), conforme dados do CoinTraderMonitor.

Hora de comprar? Segundo o CEO do marketplace Brasil Bitcoin, Marco Castellari, correções como essas são comuns. “A bitcoin ainda acumula um retorno de quase 20% em 2021, maior do que o Ibovespa, que teve retorno de apenas 2,9% neste ano”, disse ele. O CEO do marketplace de criptomoedas BitPreço, Ney Pimenta, avalia que as restrições chinesas provocaram um momento de pânico, mas a reação foi exagerada.

Os aficionados pelas criptomoedas costumam afirmar que a bitcoin e a tecnologia que o sustenta, o blockchain, são as principais forças disruptivas na direção de uma economia mais inteligente e eficiente. Porém, os últimos dias testaram o coração dos investidores, e será preciso conferir se isso não baixou seu apetite pelo risco.