Donald Trump, o bedel das confusões que assusta o mundo, “trucou” de novo. Fechou o acordo do Nafta entre o seu país e o México para aliviar as tensões no plano comercial. Foi uma volta atrás no que ele defendia antes em relação a essa parceria. Mas o estratégico movimento sinalizou uma busca de aliados após a abertura de outras frentes de conflito nesse campo, especialmente com a China, cujos estragos já estão sendo sentidos. O presidente americano mirou todo o seu arsenal de retaliações tarifárias contra o adversário asiático por ver nele seu maior rival pela hegemonia do mercado global. A reaproximação com o México, por sua vez, coloca o parceiro latino na condição de “suporte” acidental ao seu intento de expandir trincheiras de resistência pelo continente.

A versão preliminar da aliança revisada não inclui os canadenses. Esses precisam ainda sentar à mesa para negociar os termos do bloco – em vigor desde 1994, mas suspenso temporariamente desde que Trump assumiu o poder. Na prática e no cômputo do desempenho obtido até aqui, o Nafta movimenta anualmente mais de US$ 1 trilhão. Mexe, naturalmente, com vizinhos que não estão dentro dele. O Brasil, especialmente, que pode experimentar queda nas encomendas de autopeças por indústrias mexicanas. Essa virada, que gera incerteza por aqui, foi mais um fator a mexer com o câmbio, ampliando a distância entre o real e o dólar – já bastante turbinada pelas indefinições políticas.

Se, por um lado, a alta do dólar torna as exportações mais rentáveis, por outro compromete praticamente toda a linha produtiva do País que necessita de matéria-prima vinda de fora. Analistas já preveem que, mesmo após as eleições, o dólar deva terminar o ano cotado na casa de R$ 3,75, portanto acima do que vinha valendo até recentemente. Por essa variável cambial, o Brasil passa a ser mais um integrante do clube de maiores prejudicados pelas políticas externas de Trump – sem contar as taxações aplicadas por ele ao aço e alumínio nacionais. Trump não adere a diplomacia quando o assunto é ofensiva comercial dos EUA. Ao contrário.

A truculência nas ações segue como sua maior característica, em muitos casos quebrando com os acordos construídos ao longo de anos. Com o Nafta não foi diferente. Ele primeiro exigiu a revisão de vários compromissos, em itens prioritários que vigoravam, para só depois dar seu aval a adesão. O roteiro de comportamento de Trump, invariavelmente, prima pelo desprezo a compromissos multilaterais. Não será nenhuma surpresa se ele não chegar a um entendimento com os canadenses. E nem mesmo a anulação, mais adiante, do Nafta pode ser descartada. Basta uma virada no humor desse senhor.

(Nota publicada na Edição 1085 da Revista Dinheiro)