Os analistas costumam dizer que no varejo de alimentos existem dois tipos de empresas: aquelas que têm ?bala na agulha? para comprar e as que são possíveis alvos de aquisição. A elevada concentração do setor, contudo, acabou abrindo espaço para uma terceira categoria, formada por redes menores e especializadas em uma determinada região ou tipo de cliente. É o caso da paulistana Atacadista Roldão, que nasceu em 2000 no bairro da Freguesia do Ó (coração da zona norte da cidade) e abocanhou uma clientela praticamente desprezada por supermercados e pelos atacadistas convencionais. São donos de pequenas mercearias ou botecos e vendedores de guloseimas como pizza e cachorro-quente. A recente popularização do atacarejo, modelo híbrido que corteja tanto pessoasfísicas como revendedores, fez com que o Roldão corrigisse sua rota. Mas em vez de aderir a essa tendência, a rede optou por intensificar ainda mais o seu modelo. Para isso, está investindo R$ 21 milhões na abertura de três novos pontos- de-venda na Grande São Paulo. Essas unidades deverão elevar em 60% a receita anual da companhia, de R$ 400 milhões. Mas existe espaço para empresas médias num mercado concorrido como o alimentício? Ricardo Maciel Roldão, presidente do Atacadista Roldão, garante que sim. ?Não vejo os hipermercados nem o chamado atacarejo como concorrentes?, diz.

Uma prova disso, cita ele, foi a decisão de abrir uma filial no bairro de Itaquera (zona Leste de São Paulo), a menos de 300 metros de lojas do Extra e do Atacadão (que pertence ao Carrefour). O que, à primeira vista, pode parecer suicídio, é, segundo o empresário, uma forma de sobrevivência. ?A proximidade com as demais redes vai ajudar no processo de comparação, ressaltando nossas vantagens competitivas?, aposta. Entre elas, destaca: a política agressiva de descontos e o mix de ofertas sob medida para o food service que atende as classes C, D e E. ?Funcionamos como uma espécie de estoque para comerciantes que têm pouco espaço físico e não dispõem de capital de giro?, explica Ricardo. É isso, de acordo com o consultor Sérgio Nardi, diretor da Outstretch e autor do livro Marketing para o Varejo de Baixa Renda, que explica em parte o sucesso do Roldão: ?Eles souberam captar o fenômeno de crescimento dos negócios de pequeno porte na área de alimentação?. Os números também confirmam o acerto da estratégia seguida por Ricardo. No primeiro semestre, as vendas cresceram 64%, ante 6,4% do setor. Para aumentar ainda mais a sintonia com o público-alvo, o empresário acaba de lançar o cartão de crédito Roldão+. O ?plástico? será administrado pela companhia, que separou R$ 2 milhões para bancar o risco de crédito e financiar as operações. ?Os bancos, no geral, têm dificuldade de analisar os nossos clientes?, justifica Ricardo. A expectativa é fazer com que esse instrumento represente, em um ano, cerca de 20% do faturamento. Outra novidade é a linha de marca própria, a Vale+. São 51 produtos, tais como: pão, sorvete, macarrão, suco e amaciante de roupa. Nada mal, para quem começou vendendo lingüiça a bordo de um fusca