Há pouco mais de um ano, o Wal-Mart anunciou o plano de expansão mais ambicioso já apresentado por uma rede varejista no Brasil. Seria R$ 1 bilhão

para a abertura de 28 novas lojas em 2007. Superava, com folga, os projetos dos arqui-rivais Pão de Açúcar e Carrefour. O destino dessa dinheirama ficou guardado a sete chaves pelos dirigentes locais da maior empresa do mundo. Meses depois, já é possível identificar para onde está indo a máquina de fazer dinheiro chamada Wal-Mart. E surpresa: não será no Sudeste, particularmente em São Paulo, o pedaço mais rico do mercado consumidor, que boa parte do dinheiro vai pousar. O Nordeste ficará com R$ 400 milhões do total previsto em investimentos. Serão 19 lojas inauguradas na região até o início de 2008. Sete delas chamam-se Wal-Mart Todo Dia e atendem o público de baixa renda. A companhia está investindo na região do País onde o consumo mais cresce, para a classe de consumidores que mais gasta. Simples assim. Só que o cobertor é curto. Enquanto finca sua bandeira na parte de cima do País, o Sudeste continua a ser palco de uma disputa acirrada dos concorrentes com novos formatos de lojas. ?Eles vão ?fechar? o Nordeste e devem partir depois, mais pesadamente, para mercados do Sul e Sudeste?, diz Claudio Felisone, um dos maiores especialistas em varejo do País.

Os programas sociais do governo deram uma boa mãozinha para o aumento da renda da população no Nordeste. Lá o rendimento dos trabalhadores subiu

12% em 2006. Ponto a favor de quem tinha a loja prontinha à espera do consumidor. Mas o Nordeste ganhou peso na seleção de investimentos por mais razões, enumeram os especialistas. Lá, os custos de expansão são mais baixos, o que eleva o retorno sobre o capital aplicado. O metro quadrado do terreno nas capitais nordestinas é menor que no Sudeste, assim como a mão-de-obra é mais barata. Há mais espaços disponíveis para abertura de pontos. E, por fim, já existe uma ?inteligência? na região por conta da aquisição, em 2004, da rede BomPreço. Essa turma de diretores e gerentes conhece aquele mercado de cabeça para baixo. É uma união de fatores tentadora para qualquer investidor que precisa ganhar escala urgentemente. O que parece menos claro ? a rede pouco comenta ? são os seus planos para o resto do Brasil. Até agora, o grosso do crescimento aconteceu por aquisições. Mas os grandes negócios acabaram. Para continuar a ganhar peso, o caminho é a expansão orgânica. Recursos financeiros para uma rede de US$ 300 bilhões de receita mundial não faltam. No entanto, das 28 inaugurações previstas neste ano e no início de 2008, apenas nove acontecerão no Sul e Sudeste. Em outras palavras, o Wal-Mart Todo Dia continua com as mesmas duas lojas que possuía na capital paulista, um ano atrás. ?A expansão para São Paulo é num segundo momento?, diz o diretor da rede Todo Dia, Demetrio Magnani, para, em seguida, manter o mistério. ?Pode ser que a expansão ocorra em 2008.? O plano de investimentos para o próximo ano ainda não foi anunciado. No Nordeste estão 118 das 304 lojas do grupo.

R$ 12,9BILHÕES foi o faturamento bruto da cadeia no Brasil no ano passado

Para especialistas, seria ingênuo pensar que eles não estão se movimentando fora do Nordeste. ?O banco de terrenos deles está cheio?, diz um analista do setor varejista. Esse estoque de terrenos no Sul e Sudeste é fundamental. Nesse caso, a rede estaria investindo em ativos ?invisíveis? e se preparando para um embate ainda mais direto com a concorrência. Mas a companhia não fala disso, assim como diz que não prioriza o Nordeste como local para investimentos. Afirma ainda que as vendas em todas as regiões crescem a altas taxas, segundo Vicente Trius, presidente da rede no Brasil. Por enquanto, o que se sabe é o que se vê: o Nordeste é o grande negócio do Wal-Mart no Brasil.