No maior e mais famoso museu do mundo, o parisiense Louvre, um dos únicos rostos sem máscara é o da Monalisa, obra-prima de Leonardo da Vinci, de 1503. Três semanas depois de flexibilizar as restrições na pandemia, com avanço da vacinação e queda nos casos de contaminação e morte, na semana passada a França retomou medidas mais duras para conter a disseminação da variante Delta. Filas estão proibidas. Todos os espaços públicos, abertos ou fechados, deverão exigir uso de máscaras – sob pena de multa ou, em casos mais extremos, detenção. E vai ficar pior. Um decreto do presidente Emmanuel Macron determina que todos os cidadãos e estrangeiros no país deverão apresentar, a partir de agosto, um certificado de imunização ou um teste negativo de Covid-19 para entrar em bares, restaurantes e cinemas, ou viajar em trens e aviões. Apenas as praias ficaram de fora da lista. O governo também deu aval às empresas para proibir a entrada de funcionários não vacinados e a cortar seus salários no período de ausência — uma medida extrema em uma nação que se orgulha do liberté, egalité, fraternité. “Nosso objetivo é reconhecer a civilidade dos vacinados e impor restrições aos não vacinados, e não a todos”, disse Macron.

O arrocho social contra a Covid ultrapassa as fronteiras francesas. Na segunda-feira (26), o Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC) reafirmou que a tendência é de um “forte aumento” no número de casos da doença no continente em agosto. A agência atribui a alta à força da variante Delta e ao recente relaxamento das medidas de proteção. “A atual deterioração contínua da situação epidemiológica da Covid-19 em muitos países deve continuar, dado o rápido aumento da transmissão da variante Delta”, afirmou o ECDC, em comunicado.

Na vizinha Espanha, as medidas são ainda mais radicais. A cidade de Barcelona e outros municípios do nordeste do país impuseram um novo toque de recolher noturno para combater eventos e aglomerações. Por lá, o número de mortes e infecção entre os jovens não vacinados já supera o dos mais velhos. “É uma medida difícil, mas devemos parar as infecções, proteger vidas e o sistema de saúde. O toque de recolher é fundamental”, publicou nas redes sociais o governador da Catalunha, Pere Aragones.

TIO SAM DE MÁSCARA O cenário de retrocesso na Europa reflete o que ocorre no outro lado do Atlântico. O Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), órgão dos Estados Unidos responsável pelo combate às pandemias, voltou atrás e recomendou na terça-feira (27) que pessoas que receberam vacina contra o coronavírus voltem a usar máscaras quando estiverem em ambientes fechados, de acordo com a circunstância. Uma recomendação especial foi feita para que, mesmo entre os vacinados, seja mantido o uso de máscaras em escolas por professores, funcionários, alunos e visitantes.

Em maio, o CDC tinha afirmado que as pessoas plenamente vacinadas não precisavam usar máscaras, nem mesmo em ambientes fechados. Havia uma exceção: no transporte público, todos deveriam manter as máscaras de proteção. Nas últimas semanas, no entanto, alguns governos regionais dos EUA, como o do Condado de Los Angeles, na Califórnia, o mais populoso do país, com 10 milhões de moradores, recomendaram que as pessoas voltassem a usar máscaras em ambientes fechados.

No domingo (25), o principal especialista em doenças infecciosas dos EUA, o assessor médico da Casa Branca, Anthony Fauci, afirmou que o país está indo na “direção errada” na pandemia do novo coronavírus e em uma “situação desnecessária” de aumento de casos de Covid-19. Fauci atribuiu o recente crescimento de casos de Covid-19 à parcela da população não vacinada e à variante do vírus. “Estou muito frustrado por ter de pedir que pessoas vacinadas voltem a usar máscara”, afirmou. Os EUA ocupam o primeiro lugar no ranking global de mortes na pandemia no mundo. São mais de 600 mil óbitos. Hoje, segundo o governo, entre os novos casos, 83% foram infectados pela variante Delta. A grande maioria (97%) daqueles que precisam ser hospitalizados com infecções pelo coronavírus nos EUA é de pessoas que não foram vacinadas.