O povo brasileiro é solidário por natureza. O empresário, porém, está engatinhando quando o assunto é mexer no bolso para cuidar do social. Ainda são poucos aqueles que tratam o tema como compromisso empresarial, dando a ele igual importância das pesquisas e desenvolvimentos de produtos, das estratégias de marketing e do aumento de vendas. A boa notícia é que 2001 nasce como o ano do voluntariado e a preocupação com as questões sociais vem atraindo mais interessados. De acordo com Anna Maria Medeiros Peliano, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), a generosidade está ganhando força por aqui, principalmente entre os investidores de peso. ?Os empresários têm se organizado e vêm migrando do perfil filantrópico, aquele das doações quase aleatórias, para o apoio financeiro constante por meio de fundações e institutos?, afirma Anna Maria. A Pesquisa Ação Social das Empresas, feita pelo Ipea, revela que as áreas mais atendidas pelos filantropos são, pela ordem, assistência social (asilos e creches, por exemplo) e de alimentação, segurança, esporte e educação. Até agora, estudos feitos por outros institutos apontavam a educação como o centro das atenções do empresariado.

Os números, é verdade, ainda são baixos comparados a outros países. O levantamento do Ipea, revela que as doações de empresários brasileiros, do micro ao grande, não devem chegar a R$ 5 bilhões ao ano (dados preliminares). Ainda há uma distância muito grande entre o que é feito por aqui e no exterior, especialmente pela iniciativa privada. Segundo a Kanitz Associados, enquanto os números americanos relacionados ao consumo costumam ser oito vezes maiores do que os brasileiros, o atraso empresarial do Brasil em comparação aos Estados Unidos nos programas sociais é 10 mil vezes maior. Bill Gates, da Microsoft, é o campeão mundial da filantropia. A fundação que dirige com a mulher Melinda já destinou US$ 22 bilhões a programas de saúde, especialmente de combate à Aids. O megainvestidor George Soros escolheu trabalhar com crianças e até hoje doou US$ 3 bilhões. Durante uma palestra, afirmou: ?Nunca me deu remorso gastar grandes somas de dinheiro para tentar coisas boas?.

No Brasil, o exercício de cidadania parte de empresários como Roberto Marinho (Organizações Globo), Emílio Odebrecht (Odebrecht), Sérgio Amoroso (Grupo Orsa) e instituições financeiras como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú. A Fundação Bradesco, criada em 1956, está entre as maiores entidades brasileiras e neste ano deve desembolsar R$ 113 milhões em atividades sociais. A idéia nasceu com o fundador do banco, Amador Aguiar, que se assustou com as precárias condições do ensino no interior do Pará, durante uma visita de negócios. Quase meio século depois, Denise Aguiar, neta de Amador, acompanha de perto os projetos. Já a Fundação Banco do Brasil, segundo Heloísa Helena de Oliveira, presidente da entidade, destinou mais de R$ 400 milhões nos últimos 12 anos. ?Nossos programas têm como tarefa contribuir para melhorar os níveis de saúde, longevidade, educação e acesso ao emprego?, explica Heloísa.

 

Denise Aguiar

 

Bill e Melinda Gates

 

Membro do conselho do Bradesco Investimentos: Só entre 1999 e 2000, totalizaram R$ 216 milhões Beneficiários: Formação profissional de crianças, jovens e adultos. 

Co-fundador da Microsoft e sua esposa Investimentos: US$ 22 bilhões Beneficiários: Financia programas de saúde, como pesquisas de vacina contra a Aids e a redução da mortalidade infantil.

 

Roberto Marinho

 

George Soros

 

Presidente das Organizações Roberto Marinho Investimentos:
Mais de R$ 150 milhões ao ano Beneficiários:
A educação é prioritária, mas tem projetos ambientais e de preservação do patrimônio histórico.
 

Investidor com participações em várias companhias Investimentos:
US$ 3 bilhões Beneficiários:
Apóia programas infantis, de saúde pública e o desenvolvimento de pequenos empreendimentos