Com 66 anos de vida e afundado em dívidas que ultrapassam os 100 milhões de euros, o tradicional e sisudo jornal francês Le Monde está prestes a mudar de comando. “Pièce de résistance” da intelectualidade francesa, o Le Monde saiu das mãos de uma comissão de jornalistas identificados como à esquerda do poder para cair nas de um banqueiro, de um mecenas e, quem diria, do rei da pornografia na França.

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Juntos, ele assumiram as dívidas do jornal mais respeitado do país e vão investir 110 milhões de euros. Não os conhece? Vamos às apresentações: Matthieu Pigasse, 42 anos, é um banqueiro que ostenta no currículo cargos como diretor do Tesouro francês e assessor técnico de Dominique Strauss-Kahn, ex-ministro da Fazenda e da Indústria da França e hoje diretor-geral do FMI. Pierre Bergé, 80 anos, é ex-companheiro do estilista Yves Saint Laurent, atua como mecenas e financia algumas publicações voltadas para o público gay.

Xavier Niel, o último do trio que vai comandar o Le Monde, é o mais polêmico de todos. Ele iniciou a sua fortuna – hoje estimada em mais de 2,4 bilhões de euros – vendendo serviços de telessexo. Em comum com os novos parceiros, Niel só tem a abastada conta bancária. Os dois primeiros são de Neuilly Sur Seine, o pedaço parisiense com a maior concentração de ricos de toda a França. Já Niel, nasceu em Créteil, no 11º arroundissement –, ou seja, a um passo da periferia.
 

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Xavier Niel: o novo dono do Le Monde já foi acusado de explorar prostituição e caiu na malha fina francesa
 

Autodidata, Niel começou a vida comercializando ligações telefônicas por meio da “minitel rose”, sistema de chat online de troca de mensagens eróticas com garotas idem. Com o dinheiro que fez com o serviço, Niel tentou se desvincular do mundo da pornografia e comprou uma pequena empresa do setor de telefonia, a Fermic Multimedia, e a rebatizou de Lliad.

Era 1991 e, embora a palavra internet significasse muito pouco para o grande público, o empresário começou a investir na área. Entre as inovações lançadas por ele, estava a primeira lista telefônica eletrônica do mercado francês.

Dois anos depois, ele sairia na frente da concorrência mais uma vez e lançaria o primeiro provedor de acesso à internet, o WorldNet, vendido, em 2000, por 4 milhões de euros. Em 2002 ele daria a tacada de mestre ao pôr no mercado francês o primeiro serviço de internet, televisão e telefone num único pacote por 29 euros. A novidade mexeu com todo o setor e levou os concorrentes a imitá-lo.

Magnatas da mídia

Alguns dos jornais mais importantes do mundo estão nas mãos deles

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Rupert Murdoch: fortuna de US$ 9 bilhões e títulos como The Wall Street Journal e The Sun

 

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Sam Zell: fortuna de US$ 3 bilhões e dono do Los Angeles Times e Chicago Tribune

 

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Carlos Slim: fortuna de US$ 53,5 bilhões e sócio no The New York Times. No Brasil tem a Embratel e Claro

 

Apesar de ter construído esse império, Niel não conseguiu ficar longe do setor de entretenimento adulto, no qual começou sua carreira. Em 2004, o empresário investiu em sex-shops e cabines de peep-show, aquelas nas quais os clientes pagam para ver mulheres se despirem.

Os negócios iam bem nesta área até ele ser acusado de exploração de prostituição e também de abuso de poder econômico. Neste último caso, Niel caiu numa espécie de malha fina da Receita local.  O magnata chegou a passar um mês detido enquanto as investigações avançavam. Niel acabou condenado a dois anos de prisão, mas pagou fiança de 250 mil euros e foi colocado em liberdade. Daí em diante, Niel – pai de dois filhos e avesso a terno e gravata – passou a dedicar a maior parte de seu tempo a atacar o jornal Libération e o jornalista Renaud Lecadre, autor das reportagens que o levaram aos tribunais. Agora, que ironia, ele terá seu próprio jornal.