Responda rápido: qual é o prédio que melhor representa a cidade de São Paulo? Acertou quem respondeu a torre Santander Banespa, no centro velho da capital. Mas passados quase 60 anos da sua construção, os 35 andares do edifício, com 161 metros de altura, estão ameaçados de ficar às moscas. O Santander, que arrematou o Banespa num leilão em 2000, está de malas prontas para deixar o Centro rumo à Zona Sul da cidade. Com ele irão cerca de 2 mil funcionários, que ocupam dois prédios na rua Boa Vista ? nos números 209 e 227 ? além da Torre, na vizinha João Brícola. Estas informações DINHEIRO colheu junto ao mercado e aos negociantes da região, uma vez que o banco faz mistério dos seus planos. Admite que está de mudança para a Zona Sul, mas sustenta que a desocupação do Centro será gradual e parcial ? e não confirma que a Torre será esvaziada. Interlocutores do Santander, porém, confirmam que a saída do banco da Torre está ?por meses? e que o governo do Estado estaria interessado em adquirir esse e outros prédios do Santander, assim como já comprou os imóveis do Itaú, quando ele mudou de endereço. Somente a Torre é avaliada em cerca de R$ 60 milhões.

Ao rumar em direção à Zona Sul, o Santander vai engrossar a lista de grifes financeiras que deixaram o Centro no último ano, como Itaú, BankBoston e BicBanco. A região, que ficou famosa por concentrar o maior número de sedes de bancos por metro quadrado, agora tem apenas agências. O último caminhão de mudança do Itaú com o pessoal do setor administrativo saiu no final do ano passado. Há dois anos, a região contava com 13 mil bancários. Hoje, o total de profissionais que trabalha em bancos no Centro não passa de sete 7 mil. Aos poucos, a região deixa de ser um centro financeiro para se transformar em centro administrativo, uma vez que os prédios dos bancos foram ocupados pelo governo do Estado. Agora, há duas secretarias e quatro empresas públicas somente no trecho entre o Pátio do Colégio e o Largo São Bento. ?Esse pessoal usa menos táxi e faz menos happy hour?, diz Marta Rodrigues, gerente-administrativa do Girondino, tradicional restaurante no final da rua Boa Vista. Os bancos mudaram do Centro para prédios maiores e com mais recursos tecnológicos. O Santander, por exemplo, vai concentrar seus funcionários em Santo Amaro e num edifício recém-adquirido da Xerox em Interlagos.

Quem sofre com a mudança é a rua Boa Vista, onde os bancos começaram a chegar na primeira década do século passado, quando se abriu a ligação entre ela e o venerando Pátio do Colégio. Nos anos 50, quando São Paulo se firmou como a cidade mais pujante do País, as maiores instituições financeiras já estavam na Boa Vista. O primeiro movimento de êxodo ocorreu nos anos 80, quando os bancos migraram para a av. Paulista acompanhando a expansão do Centro. Agora, a região vive a segunda e talvez definitiva mudança de perfil. ?Daqui para frente, o Centro abrigará o setor público e uma nova leva de moradores, que estão voltando a procurar residências baratas na área?, prevê Jorge Wilheim, secretário municipal de Planejamento Urbano. Isso não significa que é fácil encontrar compradores para os imóveis deixados. Há mais de um ano, o Itaú tenta sem sucesso se desfazer de um prédio na Boa Vista, ocupado pelo antigo Bemge. ?Já ocorreram alguns leilões, mas não houve venda?, diz Emmanuel Lopes, secretário-executivo da Ação Local, entidade da Associação Viva o Centro. A saída do Santander, contudo, promete ser mais fácil. Afinal, a torre do Banespa está para São Paulo como o Empire State está para Nova York. É um ícone da cidade, e os ícones não costumam ser abandonados.

Em dois anos, o número de bancários no Centro caiu de 13 mil para 7 mil