Bolsonaro (à esq.) e Haddad não estão apresentando suas agendas econômicas

Olá, pessoal, tudo bem? Tenho uma confissão a fazer. Vibrei quando o resultado das urnas mostrou que nós teríamos o 2º turno na eleição presidencial. A minha vibração não tem nada a ver com a colocação dos candidatos, pois continuo tendo uma postura completamente apartidária. Fiquei empolgado com a possibilidade de um amplo debate sobre as propostas econômicas para o País. Até agora, no entanto, a decepção é total.

Meu foco aqui é a economia. O Brasil está quebrado do ponto de vista fiscal e os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) pouco falam sobre o tema. Será que eles fingem que o problema não existe ou, pior, será que eles não têm propostas concretas? Na verdade, o tema é impopular e os marqueteiros provavelmente recomendam driblar o assunto. E a geração de empregos, uma demanda tão popular? Nada de ideias…

A minha decepção é com os dois candidatos. Bolsonaro, que logo no início da pré-campanha anunciou o economista ultraliberal Paulo Guedes como seu futuro superministro da Fazenda, decidiu calá-lo. Guedes sumiu da campanha e ficou literalmente mudo ao lado de Bolsonaro em um vídeo divulgado na noite do 1º turno. Tudo o que os jornalistas conseguem apurar vem de informações em off, ou seja, fontes da equipe de Bolsonaro que não querem se identificar.

Líder nas pesquisas, Bolsonaro é claramente o favorito a subir a rampa do Palácio do Planalto, em 1º de janeiro de 2019. O candidato, representante da direita, tem a obrigação de apresentar a sua agenda ao País. Caso contrário, receberá um perigoso cheque em branco da sociedade. Afinal de contas, quais são as estatais que Bolsonaro pretende privatizar? Qual alíquota de Imposto de Renda (IR) iremos pagar? Teremos novas regras para a aposentadoria? A política de preços da Petrobras será alterada? A China, nosso maior parceiro comercial, é vista como amiga ou inimiga? São apenas algumas questões ainda não respondidas.

Já Haddad, que representa a esquerda, vem apresentando um discurso dúbio em relação ao programa de governo registrado na Justiça Eleitoral. Qual é a verdadeira agenda econômica do PT? É mais ortodoxa, como a do primeiro mandato do ex-presidente Lula (2003-2006), ou é mais heterodoxa, como a do governo Dilma (2011-2016)? Por ortodoxo, quero dizer, nesse caso, uma agenda compromissada com o equilíbrio das contas públicas. Por heterodoxo, entendo uma agenda com mais gastos públicos. No primeiro caso, o setor privado é o protagonista. No segundo, há uma presença maior do Estado na economia.

O jeito mais simples de Haddad dirimir essas dúvidas seria anunciar o seu ministro da Fazenda. O perfil do economista desvendaria esse enigma. Seria alguém ligado às ideias da Unicamp, dos empresários ou do mercado financeiro? Ao deixar de anunciá-lo antecipadamente, se cria a mesma sensação de cheque em branco. De um lado, temos um eventual ministro que não fala. De outro, não temos o nome do eventual ministro.

Do jeito que a campanha está sendo conduzida, com ênfase em ataques pessoais nas redes sociais, a última esperança é a realização de bons debates, sem o filtro dos marqueteiros. Do ponto de vista médico, foi compreensível a ausência de Bolsonaro até agora. O que seria inadmissível é a sua possível ausência mesmo com o aval médico. E, ainda que o seu deslocamento até um estúdio não fosse recomendado pelos médicos, o que impediria o candidato de debater via internet? A tecnologia está disponível e não há desculpas para a ausência de debates. Perde a democracia, perde o eleitor, perde o País. O silêncio de Bolsonaro e Haddad, principalmente nas questões econômicas, é ensurdecedor…