Em maio do próximo ano, três meses antes do seu aniversário de 65 anos, Craig Barret deixará o cargo de presidente mundial da Intel, a maior fabricante de chips do planeta. Após sete anos na função e um total de 20 anos de companhia, ele assumirá uma cadeira no Conse-
lho de Administração e passará as atribuições para o seu sucessor ainda não anunciado oficialmente, Paul Otellini. A Intel que Barret entregará vive em mundo diferente daquele que ele conheceu ao ser indicado para o cargo.

A bolha da internet evaporou, o mercado de chips entrou em crescimento vegetativo e há oportunidades de negócios nas quais a companhia ainda não tem hegemonia. O que não mudou nesses anos é a capacidade de Barret em atrair para si uma atenção diferente daquela destinada aos outros barões da indústria mundial de tecnologia. Como ex-professor da universidade americana de Stanford, ele sabe cativar platéias sem canastrice ou ações histriônicas. Essa regra se repetiu na semana passada durante mais uma visita do presidente da Intel ao Brasil.

Na quarta-feira, ele encontrou executivos da subsidiária e empresários. Na quinta, clientes, fãs e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem não havia conhecido na última visita. O ponto alto foi uma apresentação para mil convidados em São Paulo. ?É um dos poucos titãs da indústria de tecnologia que traduz temas técnicos para os leigos?, diz Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos Avançados do Recife e professor da Universidade Federal de Pernambuco. Em Brasília, o executivo reafirmou algo que já havia repetido nas outras vezes que esteve no País: uma fábrica de chips em território brasileiro é um sonho que não deve ser acalentado. Barret reaformou sua crença que o futuro do Brasil está na ?capacidade de inovação.? No encontro com Lula, o presidente da Intel ofereceu um novo conceito para o governo: a cesta básica de tecnologia que incluiria investimentos nas áreas de infra-estrutura de telecomunicações, acesso à internet nas escolas e sofisticação tecnológica dos serviços públicos.

Mais do que isso. Barret garantiu o seu lugar na história da Intel. Ele entrou na companhia para montar os laboratórios de pesquisa, assumiu a área de produção e se tornou presidente em 1997. Foi a fase de maior prosperidade da empresa, com vendas em alta. ?Ele nunca deixou a liderança abafar nossa capacidade de inovação?, afirma Paulo Cunha, diretor de relações corporativas da Intel Brasil. Na época que comandava as fábricas, Barret desenvolveu um conceito pelo qual toda nova unidade era igual à anterior. Dessa forma, as decisões poderiam ser aplicadas de maneira uniforme com aumento da produtividade. Sem as funções do dia-a-dia, ele terá tempo para ?pensar? um pouco mais a empresa e aproveitar o salário anual de US$ 610 mil e os US$ 78 milhões que ainda pode obter na venda de ações a que tem direito. A única desvantagem deve ser a perda do bônus anual de US$ 1,5 milhão. Quando isso ocorrer, Barret estará milionário no seu rancho nos Estados Unidos.