Os países ocidentais atingem onde mais dói: o setor financeiro. Após um primeiro pacote de sanções, eles bloquearam nesta sexta-feira os bens do presidente russo, Vladimir Putin, e de seu chanceler, Serguei Lavrov, em resposta à invasão da Ucrânia.

Busca-se “cortar todos os laços entre a Rússia e o sistema financeiro mundial”, explicou o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, nesta sexta-feira (25), antes de uma reunião com seus colegas europeus em Paris sobre esta crise.

Quais medidas ?

A União Europeia (UE) e o Reino Unido anunciaram nesta sexta-feira o bloqueio dos bens de Putin e Lavrov, medida também estudada por Washington.

Todos os membros da Duma, câmara baixa do parlamento russo, foram incluídos na lista negra da UE, juntamente com outras 26 personalidades do mundo dos negócios. Os bancos da UE estão proibidos de aceitar depósitos de mais de 100.000 euros feitos por cidadãos russos, assim como o financiamento de estatais em entidades europeias.

O Canadá também irá punir “58 pessoas e entidades russas”, incluindo “membros da elite russa”, de “grandes bancos russos” e “membros do Conselho de Segurança russo”.

O Japão anunciou o “congelamento de ativos e suspensão de emissão de vistos para pessoas e organizações russas”, bem como o bloqueio de bens de instituições financeiras russas.

Londres e Washington já agiram contra alguns agentes financeiros, incluindo os dois principais bancos russos, Sberbank e VTB Bank.

“Excluir um banco do sistema financeiro americano equivale a impedi-lo de fazer pagamentos em dólares”, explicou Stephen Le Vesconte, advogado do gabinete Linklaters. Isso, no entanto, é mais improvável com o euro, “porque existem exonerações nos pagamentos para a energia”, ressaltou.

O quão longe irão?

Não muito, de acordo com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. “A pressão sobre a Rússia deve aumentar”, tuitou.

Por exemplo, os países ocidentais não cortaram a Rússia da rede bancária Swift, que permite receber ou emitir pagamentos em todo o mundo. “É nossa última opção”, disse Le Maire.

A Rússia tem reservas cambiais de cerca de 640 bilhões de dólares, a partir de 18 de fevereiro (o dobro do que foi encontrado em 2014, segundo uma nota da Natixis), e um fundo soberano de US$ 175 bilhões. Suficiente para financiar empresas estratégicas, em grande parte públicas.

Qual a consequência para os bancos ocidentais na Rússia?

Vários bancos europeus têm subsidiárias na Rússia. Os mais expostos são o Société Générale da França, o Unicredit da Itália e o Raiffeisen Bank International da Áustria.

Eles sofreram na quinta-feira na bolsa, mas “no momento não sofrem consequências jurídicas”, explica Le Vesconte, embora “vão operar em um país onde a moeda perde valor e a inflação pode aumentar drasticamente”.

Eles terão que deixar de lado seus clientes se os ativos de alguns deles forem congelados.

Em termos de contribuição para o volume de negócios, “a exposição dos bancos europeus é hoje muito menos forte do que a dos bancos gregos em 2010”, relativiza também Éric Dor, diretor de estudos econômicos do IESEG, entrevistado pela AFP.

É possível evitar as sanções?

Na prática, sim, disse à AFP Julien Martinet, advogado da Swiftlitigation.

Ele pega o exemplo do Irã, sujeito a sanções ainda mais duras, e observa que “os sistemas são implementados com o estabelecimento de um terceiro pagador. Mas não é nem oficial, nem aceitável para as grandes instituições bancárias, no âmbito da luta contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo”.

As empresas arriscam muito por não respeitar as sanções. A francesa BNP Paribas foi condenada a pagar uma multa colossal de 8,9 bilhões de dólares por ter enviado dinheiro através dos Estados Unidos de 2004 a 2012 em nome de clientes sudaneses, cubanos ou iranianos.

A alternativa ao dólar é destacada por produtores de petróleo como Rosneft e Gazprom Neft, que “declararam que a opção de pagamento em moedas alternativas foi incluída em vários contratos de fornecimento”, explica John Plassard, analista da Mirabaud.

Nicolas Fleuret, especialista do setor financeiro da Deloitte, imagina o uso de criptomoedas “como um veículo de pagamento alternativo”. A Rússia produz cada vez mais criptomoedas.