Como o senhor avalia o mercado de franquias hoje?
É um setor muito resiliente, principalmente nos momentos de crise. Se olharmos os últimos 20 anos, o ramo cresceu sempre acima do PIB brasileiro. No primeiro trimestre deste ano, tivemos a mesma situação, com o faturamento do mercado de franquias avançando mais de 5%.

O que explicar essa resiliência?
A distribuição por meio dos franqueados permite fazer os ajustes necessários de uma forma mais ágil do que ocorre nas empresas tradicionais. Quando se tem uma operação distribuída em vários donos, a reação é rápida, tanto em termos de redução de despesas quanto na implantação de novas estratégias.

Na crise, há um aumento na procura por franquias?
Quanto maior o desemprego, maior é a busca por uma atividade empreendedora, o que beneficia a abertura de novas franquias. Mas há outros aspectos que também ajudam. A maturidade de alguns segmentos fez toda a diferença durante a recessão.

Quais seriam esses segmentos?
Os ligados a serviços estão, em sua grande maioria, destoando. É uma tendência que tenho observado já há alguns anos. Na minha empresa, por exemplo, o faturamento das redes de beleza e estética cresceu 54% no primeiro trimestre. As nossas marcas de saúde também apresentaram um crescimento muito bom, superior a 30% nesse período.

Como avalia os movimentos de consolidação no mercado?
Eles têm crescido bastante. Vários grupos têm buscado consolidar o mercado, como o Grupo Trigo e a Halipar, na área de alimentação. No segmento de serviços, a SMZTO está liderando o processo. Essa estratégia tem provocado uma busca dos fundos de investimento pelo setor. As redes de franquias têm uma geração de caixa recorrente e um investimento baixo, o que é muito atrativo para os fundos.

O setor amadureceu nos últimos anos?
Sim, o setor de franquias não tem mais espaço para aventureiros. O mercado está mais seletivo e o próprio investidor está mais atento na hora de escolher a franquia. Ele quer uma rede que tenha suporte, que ofereça um nível bom de treinamento e que tenha uma marca forte.

A crise contribuiu para essa seletividade?
Com a crise, as redes que não estavam bem preparadas acabaram sofrendo mais. Prova disso é que o número de redes operando no setor caiu um pouco nos últimos dois anos.

Qual é a principal mudança desde que o senhor entrou no mercado?
Há 20 anos, não existia uma mídia digital tão forte. A comunicação com novos investidores e a própria gestão da rede de franquias se dá hoje de forma online e de uma maneira bem mais transparente e rápida. Isso faz, por outro lado, com que os reflexos de uma operação ruim sejam também rápidos e catastróficos.

Como isso impacta a relação com os franqueados?
Essa agilidade que temos nos canais facilita a interlocução. Quando comecei, tínhamos que ter um time e uma verba muito grande para ficar viajando pelo Brasil e se comunicando com todos os franqueados da rede. Hoje é possível conectar os franqueados até diariamente se for preciso.

Em comparação com mercados mais maduros, como os Estados Unidos, como está o Brasil?
O que ainda pesa no Brasil é a dificuldade de captar recursos com juros mais baratos. O dinheiro é muito caro, principalmente se comparado com os EUA. Quando olhamos os dois países, estamos bem alinhados em termos de tendências e inovação, mas somos prejudicados pela dificuldade que ainda temos para conseguir recursos para investimentos.


Leia as matérias do Especial Franquias:

Muito além da crise
O momento é de oportunidades
A força das líderes
Como evitar o fracasso
A aposta nos bits e bytes