Estamos presenciando há alguns anos e, principalmente, após as crises financeiras que atingiram as grandes companhias, um interesse cada vez maior de políticos, economistas e jornalistas em “estudar” as empresas familiares, avaliando o impacto da economia e examinando minuciosamente o modelo de negócio implementado por elas. Cada vez mais, surgem gráficos e relatórios que comparam o desempenho das empresas familiares com outras de diversos portes, setores e regiões, durante os altos e baixos da economia.

Soma-se a isso o fato de que respeitadas universidades e faculdades de gestão empresarial agregaram disciplinas sobre empresas familiares às grades curriculares. Diante disso, hoje observamos uma maior confiança no desempenho das empresas familiares, fazendo-as saírem dos bastidores. De todos os integrantes do S&P 500 Index (índice de mercado norte-americano que consiste em ações de 500 empresas escolhidas, entre outros fatores, de acordo com o tamanho, liquidez e setor), 33% são oriundos de empresas familiares.

Das 250 maiores localizadas na França e na Alemanha, 40% são de propriedade familiar. No Brasil, o cenário não é muito diferente. Recente estudo da KPMG Brasil sobre a estrutura de governança das empresas abertas brasileiras demonstra que um percentual substancial de empresas familiares está distribuído por todos os níveis diferenciados das companhias abertas, seja no Novo Mercado, nos Níveis 1 e 2 ou mesmo no Nível Básico. Outro levantamento realizado pela KPMG e pela European Family Businesses buscou responder algumas questões para entender o desenvolvimento dessas empresas.

Os resultados apontam que as empresas familiares estão focadas em crescimento, de forma discreta. Elas preferem colher os frutos do trabalho com os membros da família e com a equipe, em vez de fazer comunicados ousados à imprensa. Devido a essa atitude, o sucesso pode passar despercebido e a relevância dela para a economia subestimada. Ainda de acordo com o levantamento, essas companhias preferem lucratividade ao aumento do faturamento e rendimento diferido aos retornos imediatos. Eles dão valor à estabilidade e reinvestem dividendos de modo ativo.

Essas táticas proporcionam fundos internos consolidados e independência, permitindo que se sintam seguras durante recessões econômicas e desenvolvam novos projetos. Por outro lado, existem alguns obstáculos significativos ao sucesso: política e regulamentação instáveis, escassez de talentos, estratégia elaborada de forma insuficiente e falta de sucessores. Os proprietários aprendem a entender esses desafios e a lidar com eles, permanecendo positivos e otimistas e incentivando o profissionalismo.

Eles também são capazes também de executar mais de uma tarefa simultaneamente e de supervisionar tanto a prosperidade da empresa como o bem-estar da família. No entanto, os entrevistados da pesquisa concordam por unanimidade que não se deve confundir as coisas: a empresa deve ser a empresa, e a família deve ser a acionária. Embora estejam interligadas, é possível distingui-las por meio de uma boa governança, e não pela tentativa de ajustar os interesses de um lado de acordo com o desejo do outro.

Os membros da família devem aproveitar os benefícios do crescimento da empresa dentro de um limite razoável. Por fim, os respondentes disseram que o sucesso requer coragem para experimentar coisas novas constantemente, abrir novos caminhos, evitar períodos de estagnação e manter o espírito empreendedor por gerações. A família empreendedora deve permanecer assim e não enxergar a empresa apenas como um ativo financeiro. Se a companhia for vista dessa maneira, essa família é investidora, e não empreendedora.