Antes de competir na Olimpíada de Sidney, em 2000, o cavaleiro brasileiro Rodrigo Pessoa levou um susto: a princesa Haya, irmã do rei Abdulah da Jordânia, ofereceu US$ 5 milhões pelo cavalo Baloubet Du Roquet, usado por Rodrigo nas competições internacionais. O dono do animal, o português Diogo Pereira Coutinho, não hesitou e disse: ?O cavalo não está a venda?. O episódio reflete o que acontece no mundo do hipismo. Dinheiro não é problema quando um cavaleiro ou uma amazona quer montar um determinado animal em uma das mais glamourosas modalidades: o salto de obstáculos. A maioria dos competidores não depende de patrocinadores. Eles simplesmente desembolsam o quanto for preciso para saciar os seus desejos e mostrar talento no circuito. Basta mostrar o sobrenome ou o título de nobreza que carregam para entendê-los. Athina Onassis, dona de um império de US$ 5 bilhões, André Johannpeter, herdeiro da Gerdau, empresa que fatura R$ 11 bilhões, Alison Firestone, filha do magnata dos pneus, príncipe William da Inglaterra ou a própria Haya da Jordânia são os símbolos máximos dessa turma.

Mas não pense que esses jovens cavaleiros e amazonas endinheirados competem apenas porque têm milhões na conta bancária. Alguns deles disputam os principais torneios do circuito mundial e representam seus países em Olimpíadas. A princesa e amazona Haya, por exemplo, esteve nos Jogos Olímpicos de Sydney, mas deixou a competição porque o seu cavalo refugou (quando o animal fica parado em frente ao obstáculo) mais duas vezes. O cavaleiro brasileiro André Johannpeter também participou das Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e Sydney, em 2000. Ao contrário da princesa Haya, fez bonito: levou a medalha de bronze nas duas vezes. Enquanto eles praticam o esporte como profissionais, outros fazem-no pela tradição. É o caso de príncipe William, da Inglaterra. É comum ver o jovem nobre montado nos cavalos reais relembrando a história do salto.

O hipismo surgiu do costume dos nobres europeus, principalmente os ingleses, de praticarem a caça a raposa. Quando estavam em meio a floresta tinham de saltar os troncos, toras de madeira e riachos para alcançar a presa. A modalidade agradou tanto que os obstáculos naturais foram substituídos por artificiais. Hoje, as competições acontecem em piso de grama ou de areia e, em média, são usados 12 obstáculos. Os cavalos são tratados como bens valiosos e começam a ser treinados desde os três anos até chegar aos oito anos, idade ideal para competir. Os bons saltadores chegam a valer milhões e seus semens são vendidos a peso de ouro. ?Há semem que custa US$ 5 mil?, diz Marcelo Artiaga, diretor da Federação Paulista de Hipismo. Mas como acontece em todo esporte, não basta ter uma boa máquina nas mãos se o cavaleiro não tiver talento. ?É como na Fórmula 1. Um Nakagima pode ter uma Ferrari nas mãos e, mesmo assim, dificilmente vencerá?, completa Artiaga.