O urso polar norte-americano, Donald Trump, rugiu mais uma vez em tom de ameaça. Partiu para cima dos chineses. Impôs uma estranguladora taxação de 10% sobre mais de US$ 200 bilhões em importações daquele país, a despeito das regras da Organização Mundial do Comércio e em franca demonstração de um protecionismo crescente. Daquele topete laranja, com seu ar nórdico de quem nem tolera qualquer hegemonia não ariana, é possível esperar tudo. O mundo já sabe disso. Trump é irascível, vingativo, provocador. E os comerciantes asiáticos, inapelavelmente, viraram as novas vítimas. Os EUA ampliam assim um confronto que já se mostrava perigoso.

Trump, em tom destemido e atrevido, ainda engrossou a ofensiva com um alerta: se a China tomar medidas de retaliação terá troco, com uma espécie de fase três de barreiras tarifárias em vários outros campos de atividades. Não demorou muito para vir uma resposta, de mais a mais inevitável. Os chineses reagiram com sobretaxação em negócios da ordem de US$ 60 bilhões comprados anualmente do mercado americano. É o equivalente a uma alíquota de 10%, tal qual a imposta pelos EUA, que passa a valer a partir dessa segunda-feira 24. E não para por aí. Estuda-se ampliar o índice para 25% ainda no final do ano. Pequim não descarta negociações, mas espera que o sinal nesse sentido venha do outro lado.

A julgar pelo histórico belicoso do senhor Trump, dificilmente isso ocorrerá, a não ser que ele se sinta ameaçado. O dublê de presidente e empresário já mostrou que seu intento para com os demais parceiros é o do confronto pura e simplesmente. Ele só é contido quando encontra um adversário à altura, como no caso de Kim Jong-um, da Coréia do Norte. Em plena guerra comercial, para completar o quadro de beligerância, a OMC passou a correr o risco de paralisação justamente porque os EUA resolveram barrar a substituição de juízes e pressionar por reformas nas regras do organismo multilateral.

Trump pressiona com a estatura e riqueza de quem se acha dono do planeta. Dá claros sinais de que adora brincar de todo-poderoso. Enquanto isso os mercados se abalam. Os dois parceiros são, invariavelmente, os maiores e melhores comerciantes globais. Qualquer querela entre eles tem consequências diretas e agudas sobre os demais. O incremento do preço de alguns produtos e transações passou a ser cogitado. E o câmbio também se abalou com o clima de instabilidade e incerteza. Quem piscará primeiro e quais as consequências futura desse embate ainda seguem como incógnitas. Todos prendem a respiração à espera, mais uma vez, do rugido do imprevisível urso polar.

(Nota publicada na Edição 1088 da Revista Dinheiro)