Não é preciso vasculhar demais as redes sociais e os comentários na internet para notar que a popularidade do deputado Jair Bolsonaro (PSC) cresce a passos largos na corrida eleitoral de 2018, desde a divulgação da última pesquisa de intenção de voto, há um mês. Seus discursos raivosos e carregados de ironias têm agradado às massas, principalmente entre os menos esclarecidos e entre os que acreditam que problemas podem ser resolvidos na bala. É uma mistura mal elaborada entre o velho “pão e circo” e o “olho por olho, dente por dente”.

Votar nele é um tiro no escuro. É evidente que Bolsonaro percebeu que seu estilo fanfarrão, uma espécie de Trump carioca (ele nasceu em Campinas, mas cresceu e fez carreira no Rio de Janeiro) seduz uma classe média pessimamente instruída e estrangulada pela completa falência da segurança pública. Ele, por questões obvias, utilizará essa postura de showman da redenção nacional como ferramenta para avançar rumo à Presidência.

O problema é que, para a economia, Bolsonaro é uma tragédia anunciada. Suas declarações expõem a total ignorância sobre assuntos essenciais para a definição de políticas econômicas de médio e longo prazos. Bolsonaro parece não saber a diferença entre somar e dividir. Se ele sabe, esconde o jogo para demonstrar sua semelhança e proximidade com a maioria de seus eleitores. A imprevisibilidade bolsonariana gera incertezas entre os investidores, entre as empresas ou mesmo entre os mortais assalariados.

Qual o problema disso? Olhem para a vizinha Venezuela. É fácil perceber que a bravata e o populismo geram estragos irreparáveis para um país. Os companheiros chavistas, que vão à tevê com roupas de marca e charutos cubanos, parecem não estar na pior. O povo, sim, enfrenta o desemprego, a hiperinflação e o desabastecimento. Na Venezuela, um dos países mais ricos do mundo em petróleo, papel higiênico virou artigo cobiçado e raro nos supermercados.

É impossível não associar o crescimento da popularidade de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais a alguns outros fatos históricos. A ascensão de Adolf Hitler ao poder teve início num período em que a Alemanha vivia momentos turbulentos. O país pagava indenizações da Primeira Guerra Mundial e ainda sentia os efeitos da crise mundial de 1929. O povo alemão enxergou em Hitler, com sua espuma na boca e veias saltadas no pescoço, um caminho para virar o jogo. Deu no que deu.

Obviamente, a comparação entre Bolsonaro, Hitler, Hugo Chávez e Nicolás Maduro é carregada de uma boa dose de exagero. Hitler, Chávez e Maduro são nomes mais astutos e politicamente capazes do que Bolsonaro, o que torna o espirante a presidente do Brasil um problema menos explosivo. O que mais preocupa nesse processo é que o avanço do deputado social cristão revela um retrocesso na capacidade do eleitor em depurar bobagens populistas.

O canto da sereia de Bolsonaro pode até não definir o próximo presidente da República. Provavelmente, ele não será o mandatário da nação. O risco, portanto, não está somente em Bolsonaro. O perigo mora na tendência dos eleitores de pender para os extremos, seja de direita ou de esquerda. Se esse desvio de rota não for corrigido, outros “Bolsonaros” surgirão, com potencial destruidor ainda maior.