A trajetória esperada para as taxas de juros nos países ocidentais se baseia em duas esperanças: que a inflação esteja prestes a atingir o pico e que a dura tônica dos bancos centrais também, uma linha de pensamento que Zoltan Pozsar, chefe global de estratégia de taxas de juros de curto prazo no Credit Suisse, considera preocupante.

A visão de que a inflação está prestes a atingir a crista pressupõe um mundo estável sem prêmios de risco geopolítico, o que é problemático porque “vivemos em um mundo instável onde os prêmios de risco geopolítico estão aumentando”, diz ele.

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Se a primeira visão está errada (a inflação é impulsionada pela guerra econômica, não pelo estímulo), a segunda também está (não estamos no auge dessa dureza de discurso dos BCs), diz Pozsar, às vezes conhecido simplesmente por seu primeiro nome e por uma hashtag.

Se a guerra econômica é o contexto certo para entender a inflação, então os bancos centrais ocidentais não têm boas opções para minar o aumento dos preços. Eles podem reduzir a demanda aumentando os juros, mas e se a oferta se deslocar mais rapidamente do que a demanda?

“O mercado não pensa muito sobre isso”, diz Pozsar. “As guerras são difíceis de prever.”

Para onde a inflação vai depende não apenas dos choques passados, mas também dos muitos choques que ainda podem acontecer. Isso inclui mais sanções, tratar as commodities cada vez mais como armas, mais sanções tecnológicas e problemas na cadeia de suprimentos para produtos baratos.

“A guerra econômica que se desenrola entre grandes potências é estocástica e não linear”, diz ele.

“Acertar para onde a inflação vai daqui é basicamente uma questão de perspectiva: você vê a inflação como cíclica (uma reabertura confusa após a Covid, exacerbada por estímulos excessivos) ou estrutural (uma transição confusa para uma ordem mundial multipolar, onde duas grandes potências estão desafiando o poder e a hegemonia dos Estados Unidos)?”

“Pela primeira (perspectiva), a inflação atingiu o pico. Na segunda, a inflação mal começou”, diz Pozsar.