Ao batizar sua empresa de Lego (iniciais em dinamarquês da expressão Leg Godt, algo como “jogar bem”), no ano de 1932, o carpinteiro Ole Kirk Kristiansen (1891-1958) só queria fazer bons brinquedos em madeira. Até importar da Inglaterra, em 1946, uma injetora de moldes plásticos. Poucos anos depois ele daria início a uma transformação na indústria mundial dos brinquedos com seus pequenos blocos coloridos de encaixar. Essas pequenas pecinhas construíram sonhos e, junto, a maior fabricante do mundo no setor, com faturamento US$ 6,9 bilhões em 2020, alta anual de 13%. Para seu atual CEO, Niels B. Christiansen, tamanha vitalidade e resiliência estão num olhar incessante para o novo – baseado em investimentos. “Vamos aumentar esse volume com foco em inovação”, afirmou durante a apresentação dos resultados do ano passado.

No triênio 2021-2023 a gigante dos brinquedos vai investir até US$ 400 milhões em iniciativas de sustentabilidade. A principal delas está em desenvolvimento há dois anos: a criação dos famosos tijolos de Lego a partir de garrafas PET recicladas. Uma única garrafa pode fazer dez unidades pequenas – anualmente, a empresa produz 100 bilhões de peças. Mais de 250 variações já foram testadas, ainda sem data de conclusão. A principal dificuldade é conseguir um produto sustentável que mantenha durabilidade, resistência e qualidade dos tradicionais. A meta da fabricante dinamarquesa traz uma urgência: produzir 100% de seus produtos de maneira sustentável até 2030.

Istock DO PATO AO PLÁSTICO Empresa nasceu com brinquedos em madeira. (Crédito:Istock)

Esse novo momento da Lego soa até irônico. Na virada dos anos 40 para os anos 50 o fundador Ole Kristiansen viu no plástico o futuro. “Não conseguem ver que se fizermos isso corretamente vamos vender esses tijolos para todo o mundo?”, disse ao tentar convencer os filhos do potencial do material na produção de peças. Ele estava certo, mas não contava que o plástico se tornaria o grande vilão do planeta. Novos problemas, novas soluções. Além das questões ambientais, os investimentos serão alocados também para o universo digital. “No desenvolvimento omnichannel”, afirmou o CEO.

DE OLHO NA CHINA A presença física da Lego no Brasil ainda é tímida. Do total de 731 lojas no mundo, apenas 11 estão no País. O plano de expansão em andamento focam o mercado chinês. Este ano, a fabricante dinamarquesa vai abrir 120 lojas no mundo – 80 em território chinês. Proporção semelhante à do ano passado, quando das 134 lojas inauguradas o país asiático recebeu 91 unidades. Mas a pandemia mostrou que nem sempre o físico é necessário. No ano passado, o site oficial acumulou mais de 250 milhões de acessos, o dobro de visitas em relação a 2019. Por isso a dupla estratégia, ambiental-digital. “Temos uma base digital sólida, mas devemos nos mover mais rápido”, disse o executivo à frente da companhia.

VOANDO ALTO Para o CEO Niels B. Christiansen, depois de bons resultados em 2020, estratégia é expandir físicamente, com foco na China. (Crédito:Daniel Karmann)

Hoje, além de produtos para as principais plataformas de jogos e do aplicativo próprio, a companhia possui jogos que combinam o físico e o digital, como o Lego Vidiyo, brinquedo de produção de vídeos através de peças Lego. Para este ano, a novidade será o lançamento do Lego Mario e Luigi, previsto para agosto. Com conexão bluetooth, a novidade permite que dois jogadores disputem uma corrida simultaneamente. Para o CEO da companhia, um movimento necessário, mas que não irá substituir os tradicionais tijolos. “Esse sempre será o coração do nosso negócio”, afirmou Christiansen.