Olhando por um lado, os números dos três grandes bancos privados brasileiros referentes a 2020, divulgados na primeira semana de fevereiro, foram tenebrosos. Pela ordem, o resultado menos dramático foi do Santander, cujos lucros encolheram 4,8% em relação ao total de 2019. O ganho do Bradesco retrocedeu 24,8% e o do Itaú Unibanco encolheu 45,7%. Somados, os lucros caíram pouco mais de 29% em relação aos 12 meses do ano anterior. No entanto, tomados isoladamente, esses percentuais apresentam uma perspectiva enganosa. Somados, os lucros dos três grandes foram de R$ 16,2 bilhões no quarto trimestre e de R$ 48,4 bilhões no acumulado do ano passado.

Quando se coloca 2020 em perspectiva, esse é um resultado memorável. As medidas de restrição provocadas pela pandemia trouxeram desafios inéditos para as empresas e para seus gestores, em especial os bancos, que se relacionam com todos os setores da economia. As instituições financeiras foram cautelosas. Elevaram suas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), antecipando-se aos efeitos danosos da Covid-19. Cortaram custos. Apostaram pesado na intensificação das transações digitais e remotas, e não hesitaram em reduzir agências e enxugar estruturas. Fazendo isso, eles conseguiram não só manter seus resultados no azul, como preservar as polpudas margens.

O melhor exemplo é o do Bradesco, que divulgou um lucro de R$ 6,8 bilhões no quarto trimestre. “O lucro cresceu 35% em relação ao trimestre anterior e a rentabilidade patrimonial retornou à casa de 20% ao ano”, disse o presidente do banco, Octavio de Lazari, ao comentar os resultados. “Foi um resultado excepcional em um ano reconhecidamente difícil.” Não por acaso, na manhã da quinta-feira (04), as ações do Bradesco chegaram a avançar 3%. No caso do Bradesco, a necessidade de aumentar a PDD um crescimento de R$ 25,7 bilhões no ano. No entanto, no quarto trimestre houve uma diminuição 18,3% nos provisionamentos em relação ao trimestre anterior, indicando uma melhora estrutural da economia já no final do ano.

Claudio Belli

“Os ganhos de eficiência são uma questão de mudança de cultura, de mais austeridade, de focar no que é relevante” Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco.

Apesar do retrocesso no balanço, os números do Itaú Unibanco, divulgados na terça-feira (2) mostraram que as atividades do maior banco privado também se recuperaram no último trimestre. O lucro líquido foi de R$ 5,39 bilhões, aumento de 7,1% em relação ao terceiro trimestre, mas ainda 34,6% abaixo do mesmo trimestre do ano anterior. A rentabilidade patrimonial foi de 16,1%, significativamente abaixo dos 23,7% do mesmo período de 2019, mas acima dos 15,7% do terceiro trimestre. O destaque foi o crescimento da carteira de crédito, que chegou a R$ 869,5 bilhões alta de 2,7% em relação ao trimestre anterior e de 20,3% em comparação com o mesmo período de 2019. Os empréstimos para pessoas físicas avançaram 7,5% no trimestre, mas, mesmo assim, a inadimplência acima de 90 dias permaneceu estável, em 2,3%.

A divulgação dos resultados coincidiu com a passagem do comando do banco de Candido Bracher para Milton Maluhy Filho, até então responsável pela gestão financeira do banco. Maluhy disse que o banco precisa continuar buscando mais eficiência. “Não tem bala de prata. Os ganhos de eficiência são uma questão de mudança de cultura, de mais austeridade, de focar no que é relevante”, disse ele. Maluhy citou decisões do banco, como unificar várias atividades em uma área específica de pagamentos, para buscar oportunidades no segmento. “Essa é uma área que precisa passar por processo mais acelerado de digitalização, e ainda temos uma lição de casa para fazer”, disse.

SANTANDER Em comparação com 2019, os resultados menos afetados foram os do Santander Brasil, que recuaram módicos 4,8% no ano, e avançaram 1,4% em relação ao período entre julho e setembro do ano passado. “Estamos comemorando 20 trimestres consecutivos de crescimento”, disse Sergio Rial, presidente do banco. Segundo analistas, os principais pontos dos resultados do ano passado foram a queda de custos com o processo de digitalização e o crescimento da margem financeira de 6,6% no ano, para R$ 51,1 bilhões, tendo em vista que os juros baixos reduziram esse ganho. A divisão brasileira do Santander se consolidou como a mais importante do grupo, representando 30% dos resultados totais. Rial disse estar otimista com os prognósticos para a economia global. Segundo ele, o avanço nas vacinações deve destravar um consumo represado em diversos países.