Pode estar chegando ao fim uma novela judicial de 23 anos entre o governo e a família Bokel, uma das mais tradicionais da aristocracia carioca. Ex-donos daquele que já foi um dos 50 maiores grupos privados do País, os Bokel estão a um passo de receber do Banco Central R$ 163 milhões em indenizações por erros e omissões cometidos durante a liquidação extrajudicial do Banco Nacional Brasileiro, iniciada em 1978 e concluída em 1996. Derrotado na 30a Vara Federal do Rio de Janeiro, o BC perdeu o prazo para recorrer. O juiz Alfredo França Neto considerou o BC culpado por dilapidar o patrimônio do grupo, por não apresentar qualquer balanço da liquidação, por deixar de cumprir unilateralmente um acordo assinado em 1988 e por cobrar em duplicidade uma dívida já paga. O BC alegou inocência, mas, segundo o juiz, não apresentou provas para sustentar suas teses. O BC limita-se a dizer que, na interpretação de seu departamento jurídico, a contagem de tempo para recurso não se esgotou. Esse julgamento caberá ao TRF.

A liquidação deveria ser encerrada em 88, quando o interventor vendeu cem pontos ? as antigas autorizações para funcionamento de agências ?, de um total de 473, e pagou todas as dívidas do BNB. O BC aprovou então um acordo para transformar o processo em liquidação ordinária, que permitiria a devolução aos acionistas dos bens remanescentes. O BC, porém, não cumpriu o acordo, nem vendeu ele próprio a carta patente e os pontos restantes. No fim daquele ano veio a nova Constituição, e cartas e pontos se tornaram inegociáveis e sem valor.

Segundo a sentença, os ?prejuízos clamorosos? causados ao grupo indicam ?estelionato privilegiado? e ?notória prevaricação?. O BC terá ainda de permitir aos interessados ?o prosseguimento das atividades da empresa?.

O BNB foi liquidado após a compra do Banco Metropolitano de Investimentos, do empresário Sami Cohn ? que então virou executivo do BNB. Segundo Bokel, o Metopolitano recebeu então uma enxurrada de CDBs frios, que não constavam do balanço da instituição. Cohn, tido como responsável, foi demitido. Ele era padrinho de casamento da filha do presidente do BC, Ernane Galvêas, e tinha influência em Brasília. Em pouco tempo todo o grupo sofreu intervenção, incluindo o banco de varejo, a corretora e a distribuidora, todos superavitários. O caso foi parar na Justiça e foi vencido pelo BNB em duas instâncias. Mas o STJ considerou a denúncia feita de forma jurídica equivocada. A solução foi começar de novo. ?Nenhum advogado queria nosso caso. Era difícil enfrentar o governo naquela época?, conta Alfredo.

Clito já ganhara as páginas dos jornais nos anos 40, também de maneira pouco usual. Foi quando passou a viver com Cora Celina, recém-separada do magnata Assis Chateaubriand, dono da maior rede de comunicação do País. ?Chatô? abriu campanha pública contra Bokel e suas empresas, acusando-as de irregularidades sem fim. Conseguiu até que o governo Getúlio Vargas editasse uma lei, apelidada pelo povo de Terezoca, somente para tirar de Cora a guarda da filha que teve com ela, Tereza.