O mundo dos aplicativos de celular foi invadido pelas fintechs, empresas que aliam serviços financeiros ao uso intensivo de tecnologia. São bancos digitais, plataformas de investimento e startups que oferecem crédito a juros baixos. Somente entre os anos de 2016 e 2018, o investimento nas fintechs aumentou sete vezes. Num país como o Brasil, onde 60 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE, não têm conta em banco, essa é uma excelente novidade.

O sistema financeiro tradicional baseia-se numa infraestrutura cara, ineficiente e inacessível aos brasileiros com baixa renda, sujeitos a uma maior taxa de juros, cobrada tanto nos grandes bancos quanto por financeiras “alternativas” (os populares agiotas). Isso faz com que uma enorme quantidade de pessoas evite abrir conta em bancos ou faça uso escasso dos serviços prestados por eles. Os modelos usados dentro do sistema tradicional baseiam-se em dados estáticos e de baixa qualidade. Por esse motivo, as instituições financeiras tradicionais tendem a adotar uma postura conservadora na hora de conceder empréstimos e compensam o risco de inadimplência elevando o custo do crédito.

As cinco maiores instituições bancárias controlam mais de 90% das operações do Sistema Financeiro Nacional (SFN). A concentração faz com que o spread bancário — a diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram dos tomadores de empréstimos — seja um dos mais elevados do mundo. Segundo o Banco Mundial, o Brasil possuía o segundo maior spread bancário em 2017, atrás apenas de Madagascar, na África.

Mas a mudança de paradigma no setor financeiro está ao alcance de nossa mão. E se essa população “desbancarizada” puder, com o auxílio de um telefone celular, pagar contas e boletos, sacar dinheiro e fazer transferência sem precisar de um banco? E, além disso, sem ter de passar por todo o processo de identificação, controlar seus gastos, saber se o salário vai dar para cobrir as despesas até o final do mês, recarregar celular pré-pago e bilhete de transporte sem precisar entrar numa fila? Tecnologias como blockchain, associadas aos benefícios que a inteligência artificial pode trazer, oferecem um serviço confiável e de alto nível, além de reduzir significativamente os custos de operação. Essas tecnologias realizam uma análise de perfil do usuário, a partir de informações obtidas no smartphone, e possibilitam uma oferta de crédito a juros mais baixos.

Para um país como o Brasil, com milhões de empreendedores na economia informal e onde mais de 85% da população possui smartphone, esse tipo de solução tem um potencial altamente transformador. E não apenas para a população de baixa renda. Todo o ecossistema financeiro acaba ganhando, seja reduzindo as taxas cobradas, seja aumentando o crédito e barateando o produto na ponta para o consumidor. Ou seja: injetando recursos na economia real, fazendo o dinheiro girar e possibilitando o acesso a plataformas de investimentos para pessoas que não sabem o que é investir.

As fintechs podem desempenhar um papel essencial na economia brasileira nos próximos anos ao fazer algo que os bancos tradicionais não conseguem: transmitir confiança e dar todo o apoio necessário a quem nunca pensou em abrir uma conta-corrente, e muito menos, obter rendimentos usando apenas a tela do celular.

(*) Douglas Lopes é formado pela escola de negócios MIT Sloan (EUA) e diretor financeiro da plataforma de investimentos Airfox