É difícil contar nos dedos quantas marcas de roupa conseguem sobreviver a meio século de existência. Um dos casos raros é a Lacoste, criada em 1933 pelo tenista francês René Lacoste, que elaborou uma camisa de algodão ? hoje mundialmente conhecida como pólo ? para protegê-lo do frio e dos problemas de asma. Seu sucesso nas quadras aumentou o interesse pela marca entre os fãs do esporte. A burguesia adorava vestir uma Lacoste. No Brasil, até meados da década de 70, quem viajasse para a França certamente receberia a encomenda de amigos ou parentes para comprar a tal camisa pólo. Mas os tempos de exclusividade e glória passaram. Hoje, nenhum dos principais tenistas do mundo usam Lacoste. Grifes populares e mais poderosas seduziram os astros das raquetes. Além disso, outras empresas começaram a fabricar a pólo e a Lacoste se viu obrigada a diversificar a produção. Meias, jaquetas, calções foram rapidamente incluídos em seu portfólio. Enfim, era preciso avançar além das quadras.

Na década de 80, a matriz francesa decidiu ampliar sua produção em outros países. A primeira medida foi contratar empresas locais para reduzir custos e ganhar mercado. No Brasil, a missão coube à Paramount Lansul, do empresário Fuad Mattar, pai do tenista Luiz Mattar. A empresa assumiu a operação em 1983 e, desde então, tem conseguido avançar bem nas vendas. Nos últimos anos, porém, a Lacoste sofreu um desgaste. ?Nosso faturamento mantinha um crescimento constante, mas percebemos que a marca perdia a atratividade junto ao público jovem. Estava ficando envelhecida?, explica Renato Rovegno, diretor-superintendente da Paramount. Para reverter a situação, a empresa decidiu ousar: lançou em meados de 1999 camisas de cores fortes, como vermelho e verde. A estratégia deu certo. As vendas saltaram de 750 mil peças em 1999 para 1 milhão no ano passado. A receita dos produtos Lacoste, incluindo meias, calções e até calças jeans, atingiu US$ 22 milhões no Brasil. A forte expansão se deve também a outra importante tacada. Durante décadas a marca nunca havia dado muita atenção à linha feminina. Um erro crasso, pois 60% das pessoas que entram nas lojas Lacoste são mulheres em busca de produtos para seus maridos, filhos ou namorados. ?Hoje, a linha feminina responde por 40% dos negócios?.

Mudanças no mix de produtos, reforço nos pontos de venda. A Lacoste tem encarado a briga de mercado com o aumento de lojas exclusivas. Hoje são 52 e a meta é abrir mais oito este ano. Isso sem contar os 300 magazines ou lojas multimarcas onde está presente. A Lacoste, na verdade, representa 17% do faturamento anual da Paramount, de US$ 130 milhões. Mas possuir a licença de uma grife que sobreviveu à popularização do tênis e à concorrência acirrada é motivo de orgulho. A empresa só se arrepende de um erro: não ter patrocinado Gustavo Kuerten. Descartou a idéia porque avaliou que o jeito despojado do hoje campeão mundial não combinava com a marca. A italiana Diadora agradece.